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CLÓVIS ROSSI
Emoções mais fortes, enfim
SÃO PAULO - Marquei minhas férias para a partir da semana que
vem, no pressuposto de que a eleição seria liquidada no primeiro turno, com a vitória de Dilma Rousseff.
Errei, portanto, o que o leitor atento
já terá percebido, dado que pus no
papel o meu palpite, como sempre
faço.
Esse erro até me perdoo, porque
na reta final da campanha entrou o
imponderável, na forma de escândalos de vários calibres e da intrigalhada em torno do aborto. É razoável supor que esses fatores tenham
contido a onda Dilma.
O erro mais grave, no entanto, é
outro: acreditar que, no segundo
turno, Dilma daria um passeio. A
pesquisa Datafolha que sai hoje
mostra que não é bem assim. Continua favorita, continua à frente, fora
da margem de erro, mas a evolução
dos dois finalistas é bem diferente:
em votos válidos, Dilma subiu apenas 15% (dos praticamente 47%
que obteve no primeiro turno para
os 54% da pesquisa).
Já José Serra deu um salto de
44%, batendo em 47% contra apenas 32,61% nas urnas.
Uma primeira explicação, também presente na pesquisa, está dada pela maior porcentagem de eleitores de Marina que estão preferindo Serra (51% contra apenas 22%
que cravam Dilma).
Mas é uma explicação insatisfatória: metade dos quase 20% que
Marina teve dá apenas 10%, quando Serra cresceu 44%.
Talvez continue valendo o que
"El País" e "Le Monde" escreveram
sobre o primeiro turno: o eleitorado
recusou-se a dar um cheque em
branco a Lula. Ou, então, o poder
de transferência de votos de Lula
para Dilma bateu no teto. Ainda é
suficiente para lhe dar a vitória,
mas vai ter que suar a camisa bem
mais do que o padrinho imaginava.
Saio de férias arrependido por
perder emoções mais fortes que antevistas e torcendo para que ambos
os candidatos tirem Deus da campanha. Ele não merece.
crossi@uol.com.br
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