São Paulo, quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

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MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO

Crescimento e universidade

SERRA, na investidura de governador, expôs suas diretrizes. Convicção e responsabilidade, unas, aliam-se à oposição prudente e vinculam-se a reformas hostis ao "realismo". Dessa ética segue-se o dever moral: respeito a si e à coisa pública. Do nexo entre ética e moralidade resulta o juízo negativo sobre a atual crise de fé pública. Firma-se, nesses marcos, o projeto inovador ("para além do discurso") onde se alojam as prerrogativas civis. Serra acentua a importância republicana e socioeconômica de São Paulo, tópico que se enlaça ao discurso no Bandeirantes, onde destaca as fronteiras da cidadania ("o cidadão global inexiste") e enfatiza o Estado ágil.
Na defesa do crescimento com emprego (versus estagnação com assistencialismo), Serra invoca a "lei (não escrita) da responsabilidade social -saúde, educação, cultura, segurança". Embora varie o alcance e fundamento (religioso, costumeiro, por natureza ou convenção) dessa ordem silente, ele a utiliza com a generalidade e força da lei codificada. Se assim é, explicita-se o seu pacto com o povo: garantir instituições atuantes, aptas a resgatar a geração de riquezas e valorizar o ser humano.
Crescer requer empenho em ciência e tecnologia: nessas áreas, as universidades públicas paulistas são as mais produtivas do país. É grave, pois, o veto aos recursos adicionais a elas atribuídos, já aprovados no Legislativo. Deles depende a expansão visada por seus reitores e assumida pelo governo. Esse corte ameaça o ensino e a pesquisa, sem os quais o elã de crescer vira quimera. Tal opção evidencia uma quebra de contrato. Nos compromissos selados, desde 2002, entre universidades e governo, a parte acadêmica foi cumprida, ultrapassando o aumento de 20% das vagas em graduação até 2006; a promessa do Executivo está sendo elidida, retardando o avanço científico e a ampliação do ensino público superior gratuito, cuja demanda é crescente.
A Unicamp, que gera o máximo de patentes -191 em 2006, acima da Petrobras, com 177 (Inpi)-, talvez seja a mais lesada. Esse veto fere o trato, firmado com o governo em 2005, de assegurar meios para construir novo campus em Limeira. Esses recursos (R$ 80 milhões em quatro anos), e um adicional (0,05%), destinavam-se à edificação, investimento humano e manejo do espaço físico. Esse campus começaria com mil vagas em engenharia de produção e de manufatura, em gestão de agronegócio e comércio internacional, de empresas e políticas públicas. Na área humana: terapia ocupacional, fisioterapia, nutrição, esporte, produção cultural, conservação e restauro.
Cursos em certa medida inéditos no país. Cabe sanar o descompasso entre idéia e fato.


sylvia.franco@uol.com.br

MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO
escreve às quintas-feiras nesta coluna.


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