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São Paulo, terça-feira, 11 de fevereiro de 2003

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OTAN DIVIDIDA

O cisma na Otan em relação aos preparativos para a guerra contra o Iraque traduz bem a profundidade das diferenças existentes no interior da aliança militar ocidental.
É pouco provável que a Otan deixe de auxiliar a Turquia, que pertence ao bloco, na eventualidade de Ancara sofrer um ataque iraquiano, mas o veto -interposto por França, Alemanha e Bélgica- à proposta de reforçar já as defesas turcas indica que a oposição franco-alemã à guerra não é apenas para constar. O episódio sugere até que a França, como membro permanente do Conselho de Segurança (CS) da ONU, pode usar seu poder de veto para bloquear uma nova resolução que autorize o uso da força para desarmar o Iraque.
O pedido para reforçar as posições turcas havia sido feito pelos EUA algumas semanas atrás. França, Alemanha e Bélgica se opuseram argumentando que não é a hora de dar início a movimentações militares no âmbito da Otan. Isso significaria ceder à lógica da guerra e poderia solapar os esforços diplomáticos para evitar o conflito que estão em curso.
O dissenso na Otan, embora não seja inédito, torna-se emblemático quando se considera que a organização, ao longo de seus 54 anos, sempre tomou decisões por consenso. O sistema funcionou bem no contexto da Guerra Fria, quando todos os membros da aliança estavam unidos no propósito de defender-se do bloco soviético. Com a extinção do inimigo comum, desapareceu o elemento que dava coesão ao bloco. As fissuras agora se tornam evidentes.
Os esforços de França, Alemanha e outras nações dificilmente evitarão o conflito com o Iraque. O presidente George W. Bush já afirmou repetidas vezes que irá até o fim com Saddam Hussein, tenha ou não o aval das Nações Unidas para fazer a guerra. Mesmo assim, é importante que os países contrários à guerra marquem sua posição. Não se trata de resguardar Saddam Hussein, que é um ditador e não merece nenhum apoio, mas de defender uma ordem internacional regida por princípios, e não apenas pela força.


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