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OTAN DIVIDIDA
O cisma na Otan em relação
aos preparativos para a guerra
contra o Iraque traduz bem a profundidade das diferenças existentes no
interior da aliança militar ocidental.
É pouco provável que a Otan deixe
de auxiliar a Turquia, que pertence ao
bloco, na eventualidade de Ancara
sofrer um ataque iraquiano, mas o
veto -interposto por França, Alemanha e Bélgica- à proposta de reforçar já as defesas turcas indica que
a oposição franco-alemã à guerra
não é apenas para constar. O episódio sugere até que a França, como
membro permanente do Conselho
de Segurança (CS) da ONU, pode
usar seu poder de veto para bloquear
uma nova resolução que autorize o
uso da força para desarmar o Iraque.
O pedido para reforçar as posições
turcas havia sido feito pelos EUA algumas semanas atrás. França, Alemanha e Bélgica se opuseram argumentando que não é a hora de dar
início a movimentações militares no
âmbito da Otan. Isso significaria ceder à lógica da guerra e poderia solapar os esforços diplomáticos para
evitar o conflito que estão em curso.
O dissenso na Otan, embora não
seja inédito, torna-se emblemático
quando se considera que a organização, ao longo de seus 54 anos, sempre tomou decisões por consenso. O
sistema funcionou bem no contexto
da Guerra Fria, quando todos os
membros da aliança estavam unidos
no propósito de defender-se do bloco soviético. Com a extinção do inimigo comum, desapareceu o elemento que dava coesão ao bloco. As
fissuras agora se tornam evidentes.
Os esforços de França, Alemanha e
outras nações dificilmente evitarão o
conflito com o Iraque. O presidente
George W. Bush já afirmou repetidas
vezes que irá até o fim com Saddam
Hussein, tenha ou não o aval das Nações Unidas para fazer a guerra.
Mesmo assim, é importante que os
países contrários à guerra marquem
sua posição. Não se trata de resguardar Saddam Hussein, que é um ditador e não merece nenhum apoio,
mas de defender uma ordem internacional regida por princípios, e não
apenas pela força.
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