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TENDÊNCIAS/DEBATES
Uma agenda para parcerias na Amazônia
ISABEL CANTO
A reordenação de algumas colaborações internacionais na região
Norte do Brasil é urgente e importantíssima. Refiro-me a colaborações que são
desenvolvidas de forma isolada, sem
vínculo institucional, resultado de uma
série de fatores políticos e econômicos
que fragilizaram as instituições nacionais de pesquisa, implementadoras dessas parcerias. Essa situação permitiu a
continuação de programas que têm, hoje, pouca convergência com os objetivos
estratégicos dos centros de pesquisa regionais. Grupos estrangeiros adquiriram, com o tempo, uma autonomia impressionante, estabelecendo mecanismos unilaterais de desenvolvimento de
projetos no território brasileiro.
Alguns acadêmicos acreditam que a
adoção de parâmetros rígidos do lado
brasileiro, por si só, ocasionará modificações profundas. Qualquer mudança
de cenário, no entanto, deve considerar
as limitações do Estado em interferir diretamente no sistema hierárquico vigente. Cabe lembrar que a repartição
das competências que norteia as colaborações acadêmico-científicas entre os
hemisférios Norte e Sul é respaldada pela comunidade científica mundial. Como repartição de competências, refiro-me às atribuições de cada lado nessa
equação, que, em geral, tem permitido
ao pesquisador da Europa ou dos EUA
fazer pesquisa e ensinar, cabendo ao
pesquisador da América Latina aprender e investir em seu treinamento, participando esporadicamente de projetos
na fronteira do conhecimento.
Os mais radicais advogam o apoio exclusivo a parcerias avançadas, em contraposição a cooperações tradicionais.
Parcerias avançadas têm sido o modelo
amplamente adotado pelos países desenvolvidos para colaborações entre si,
cuja premissa básica é o desenvolvimento de projeto de pesquisa visando
ao [ " desenvolvimento de tecnologias de
ponta. O treinamento não é elemento
central dessas cooperações.
Devido ao grau de excelência adquirido por alguns grupos de pesquisa brasileiros, há os que [ " consideram inadequadas as parcerias tradicionais, que têm
como principais características formar
recursos humanos, promover a participação dos grupos do Sul em projetos
elaborados pelo Norte e envolver os
grupos do Sul em pesquisas identificadas pelas agências estrangeiras como
prioritárias e, portanto, passíveis de financiamento.
Por outro lado, o estabelecimento de
um modelo intermediário de colaboração é inacessível a muitos grupos brasileiros. Esse modelo tende a assumir dimensões estratégicas, na medida em
que se torna um instrumento central e
permanente, que inclui, além de elementos tradicionais, a elaboração e o
desenvolvimento conjunto de projetos.
O país deve criar modelos de parceria internacional em pesquisa capazes de
gerar o desenvolvimento de tecnologia de ponta
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Persiste entre alguns pesquisadores a
noção de que, participando com 50%
dos recursos financeiros, o país poderá
estabelecer cooperações de igual para
igual. Todavia, a participação financeira
igualitária não significa o estabelecimento de parcerias avançadas. As colaborações científicas internacionais têm
uma dinâmica muito particular, baseada, entre outros pontos, em tradições e
hierarquias. O mesmo se pode afirmar
com relação à idéia de que a equiparação da titulação acadêmica das equipes
possibilitará o desenvolvimento de parcerias simétricas. A titulação é importante porque a ela se agregam vários outros fatores, como a publicação em periódicos de primeira linha, o acesso a
equipamentos de última geração e a
participação em projetos de ponta.
O grande desafio hoje não é optar por
um modelo único de colaboração. O
que se defende é o estabelecimento de
critérios adequados aos interesses nacionais, que permitam ao governo brasileiro -por meio de seus organismos
de fomento e avaliação- participar da
elaboração dos editais, opinar sobre a
alocação de recursos estrangeiros em
território brasileiro, participar do processo de seleção de projetos e promover
avaliações periódicas.
À comunidade científica brasileira
que atua na região Norte, caberá negociar com as equipes estrangeiras o apoio
ao treinamento de recursos humanos
nos mais diversos níveis, o estabelecimento de uma agenda de pesquisa compatível com as competências dos grupos
nacionais e sua participação na concepção e implementação de projetos.
O estabelecimento das expectativas
governamentais dos benefícios dessas
parcerias internacionais para os grupos
de pesquisa brasileiros e para a sociedade é medida estratégica, [ " de fundamental
importância, podendo ser um instrumento eficaz de combate à proliferação
de colaborações informais de pouquíssimo interesse para o Brasil.
Isabel Canto, 47, é pesquisadora-associada do
Departamento de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília e coordenadora-geral
dos programas da Amazônia do Ministério da
Ciência e Tecnologia.
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