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Editoriais
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Nota zero
Avaliação medíocre de professores estaduais de São Paulo indica urgência de radicalizar critérios de mérito na rede de ensino
É LAMENTÁVEL , tanto mais
por não trazer surpresa
nenhuma, o resultado da
prova de classificação para professores temporários aplicada pelo governo estadual de
São Paulo. Nada menos que
1.500 docentes foram incapazes
de acertar uma única questão entre as 25 do teste de conhecimento. E todos eles, absurdo dos
absurdos, estarão em sala de aula
na próxima segunda-feira.
O contingente dos nota-zero
representa só 1,5% do universo
de 100 mil temporários -necessários para completar o quadro,
dada a carência de profissionais
concursados-, num corpo docente de 230 mil. Trata-se, porém, da famigerada ponta do iceberg: estimativa preliminar indica que 50% não obtiveram nem
nota cinco. Poucos acreditam
que a situação entre os 130 mil
concursados seja muito melhor.
Tal retrato medonho da educação no Estado mais desenvolvido
do país motivou nova queda-de-braço entre a Secretaria da Educação, que mal ou bem busca enfrentar a questão da qualidade
no ensino, e o sindicato dos professores (Apeoesp), sempre
pronto à mais retrógrada defesa
dos interesses menores da corporação. Uma tragédia de erros.
Estudantes e suas famílias
saem perdendo, para variar. O
único efeito da avaliação dos
temporários até agora foi o adiamento das aulas, pois uma liminar obtida pela Apeoesp suspendeu os efeitos da prova, que tinha
defeitos em demasia, registre-se.
Na rede estadual, são os profissionais que escolhem em que estabelecimento darão aula. A avaliação seria um critério, baseado
no mérito, para determinar a primazia das escolhas. Diminuiria o
peso de quesitos como antiguidade e títulos.
Medido o estrago, resta agora
radicalizar a proposta. É imperioso estender a avaliação a todo
o corpo docente, concursado ou
não. Constitui obrigação do professor dominar o conhecimento
que pretende transmitir ao aluno e dele exigir em provas. Não
cabe falar aqui em ímpeto punitivo, eterno argumento diversionista da Apeoesp.
Há consenso em torno da ideia
de que o ciclo vicioso de degradação do ensino só será rompido
com a revalorização da carreira
docente. Os bons resultados de
nações como Finlândia e Coreia
do Sul originaram-se da capacidade de atrair os melhores formandos das universidades para
dar aulas na rede pública. Um
objetivo no mínimo difícil de alcançar aqui, quando boa parte do
professorado se compõe de docentes pouco qualificados que
trabalham em regime precário.
Criar vagas permanentes e realizar concursos públicos, como
promete o governo José Serra, é
fundamental. Não, porém, para
multiplicar o número de professores acomodados, quando não
resistentes a aumentar sua qualificação e modernizar o ensino.
Plano de carreira e certa estabilidade, sim. Mas não sem promoções, oportunidades de requalificação e bônus vinculados
a desempenho em avaliações criteriosas. E, muito menos, sem a
possibilidade de retirar do sistema de ensino aqueles professores incapazes de dar as aulas pelas quais são pagos.
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