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RECUO REPUBLICANO
O secretário de Infra-Estrutura Urbana do município de
São Paulo, Roberto Luiz Bortolotto,
foi executivo da empresa LOT, uma
das habilitadas em recente concorrência pública para contratos de coleta de lixo na cidade. O secretário
afirma que, na prática, se desligou da
empresa em fevereiro de 2000, antes,
portanto, de ter assumido suas funções na secretaria, em julho de 2001.
Segundo reportagem publicada
ontem pela Folha, documentos da
Junta Comercial mostram que o nome do secretário permaneceu formalmente vinculado à LOT até julho
do ano passado -o que ele credita a
uma falha da empresa. A Prefeitura
de São Paulo assegurou que a licitação atendeu às exigências de impessoalidade, moralidade e transparência e rechaçou "ilações" sobre possível favorecimento.
É difícil, no entanto, deixar de ver
nas revelações sobre os vínculos existentes, mesmo se rompidos em
2000, mais um elemento a lançar dúvidas sobre a extensão dos compromissos das administrações petistas
com os princípios republicanos.
O PT chegou aos postos de comando que ocupa se valendo de um discurso pautado pelo rigor ético, com a
presunção de que, uma vez no poder,
romperia com os padrões condenáveis da administração pública brasileira. A idéia de que o bem público se
sobrepõe a interesses pessoais ou de
grupos sempre esteve no cerne da
pregação petista -e se tornou sua
mais abrangente bandeira. É natural
que os sinais de leniência com a quebra desses princípios causem frustração e revolta.
Talvez alguns representantes do PT
considerem que os interesses do partido e de seus "companheiros" coincidam com os do país ou os da classe
trabalhadora -ilusão que esteve
presente em equívocos históricos
das esquerdas. Ou talvez eles simplesmente tenham se tornado mais
pragmáticos, abdicando de antigas
"bravatas". Em qualquer dos casos,
perdem os ideais de um país mais
transparente e republicano.
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