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CLÓVIS ROSSI
Alguma coisa errada
MADRI - Nada como não estar no governo para ver (e dizer) as coisas cristalinamente. É o caso de Delfim Netto, o todo-poderoso ministro da Fazenda em dois dos governos militares, ao qual se atribui, justa ou injustamente, a frase segundo a qual "é
preciso fazer o bolo crescer primeiro
para distribuí-lo depois".
Agora, quando não está nem na
oposição nem no governo, Delfim foi
buscar os dados sobre o crescimento
econômico do Brasil e do mundo para concluir:
"Deveria ser evidente que a política
econômica posta em prática a partir
do governo Collor e aprofundada no
governo FHC, que "algemou" o Estado, vendeu às pressas o patrimônio
público e deixou o país endividado,
tem qualquer coisa errada! A "crença"
de que, depois da estabilidade monetária, o mercado resolveria nossos
problemas já custou caro demais ao
país. É tempo de repensá-la; não na
linha de que deveríamos combater a
inflação com "políticas de renda", como às vezes tem sido sugerido por
economistas do PT, mas na de estimular o crescimento com políticas
públicas adequadas...".
Já escrevi coisas muito parecidas
nos últimos dez anos.
Mas eu não conto. Sou leigo em economia, excessivamente crítico do
atual governo, como do anterior, do
anterior ao anterior e de todos os seus
antecessores, até chegar aos governos
de que o próprio Delfim fez parte.
Aliás, naquela época, algumas das
críticas não podiam ser publicadas,
porque havia censura.
Delfim era ouvido pelo governo anterior (pouco) e pelo atual (muito). Se
você chama alguém para conversar, é
porque o leva a sério, certo? Se é assim, o ministro Antonio Palocci poderia pelo menos tomar nota e refletir a respeito, quando alguém que ele
chama para conversar diz que a política que vem desde Collor, passando
por FHC e continuando com Lula,
"tem qualquer coisa errada" (com direito até a ponto de exclamação).
O PT disse mais ou menos o mesmo
no fim de semana. Estão todos errados, e só Palocci está certo? Contrariaria a lei das probabilidades.
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