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CLÓVIS ROSSI
Pearl Harbor é aí também
LONDRES - Deveria ter aprendido com Alon Feuerwerker, ex- secretário de Redação desta Folha,
que, no Brasil, o pessimista tem
muito mais chances de acertar palpites do que o otimista.
Sou obrigado a confessar que estava olhando com muita desconfiança todas as previsões catastrofistas sobre a economia brasileira
no trimestre final de 2008. Errei,
conforme mostra agora o IBGE:
não houve desaceleração no fim do
ano; houve um cavalo-de-pau econômico. De um crescimento de
1,8% no trimestre julho/setembro,
passou-se a um retrocesso de 3,6%
no período subsequente.
Vale para o Brasil o que disse
Warren Buffett, o "oráculo de
Omaha", sobre os EUA: também tivemos nosso Pearl Harbor.
Imagino que boa parte dos brasileiros se tenha surpreendido: pesquisa feita em dezembro pelo Datafolha -mês, portanto, em que Pearl
Harbor já fazia água e muita água-
mostrava que só 22% dos consultados discordavam totalmente da frase do presidente Lula segundo a
qual o país passaria apenas por uma
"marolinha".
Somados os que concordavam
total ou parcialmente, éramos 42%.
Foi um ano tão atípico que não
adianta nada olhar qualquer estatística que leve em conta o conjunto dos 12 meses, dado o chocante
contraste entre os três primeiros
trimestres e o último.
Esse fato torna ainda mais complicado avaliar 2009: comparar
qualquer número da economia de
hoje com o início de 2008 vai mostrar piora substancial; comparar janeiro ou fevereiro-09 com dezembro-08 mostrará eventualmente algum progresso.
E daí? Daí, nada.
Voltando a Buffett: ele diz que
não tem a mais remota ideia do que
vai acontecer nos próximos dez
meses, ou seja, até o final do ano. Se
um oráculo não sabe, só jogador de
búzio, como muito economista tupiniquim, acha que sabe.
crossi@uol.com.br
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