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Pedofilia na rede
O CONFLITO tradicional entre direito à privacidade e
combate ao crime abjeto
da pornografia infantil ganhou
dimensão planetária com a expansão da internet. Muitos países ainda se debatem para criar
maneiras de lidar com o problema nessa escala amplificada e
transnacional. O desafio é fazê-lo
sem atentar contra a liberdade.
No Brasil, o Ministério Público
Federal (MPF) computou 56 mil
denúncias nos últimos dois anos.
Mais de 80% delas envolvem o
serviço de relacionamentos Orkut, da empresa Google.
Em agosto de 2006, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação civil pública contra a
empresa, para obrigá-la a entregar dados que permitissem a averiguação, abrindo um difícil contencioso. Em outubro de 2007,
iniciou-se uma negociação mais
amigável, que culmina, agora, em
acordo na CPI da Pedofilia.
Na sessão de terça, a empresa
concordou com uma das principais exigências do MPF, manter
por 180 e não só 30 dias os registros de usuários suspeitos; informou que pretende instalar um
filtro aperfeiçoado para evitar
fotos pornográficas de crianças;
e viu aprovada a quebra do sigilo
de 3.261 álbuns de imagens restritos aos internautas autorizados pelo criador da página.
A esmagadora maioria dos
mais de 27 milhões de usuários
do Orkut faz emprego inocente
dos álbuns. Alguns exploradores
da pedofilia, porém, encontram
neles uma ferramenta para instituir clubes virtuais de perversão.
É imperioso inibir sua ação, mas
a quebra indiscriminada de sigilos não é o meio menos danoso à
privacidade de cumprir tal dever.
O número de 3.261 álbuns parece alto. O fato de terem seu
conteúdo bloqueado e serem objeto de suspeita no MPF é um requisito necessário, mas não suficiente, para a quebra de sigilo.
Na ausência do poder moderador de um juiz, cabe à própria
CPI zelar por uma triagem rigorosa das denúncias. É sua responsabilidade garantir que resultem vasculhados apenas
aqueles álbuns com indícios concretos de crime.
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