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NELSON MOTTA
Romances de espionagem
RIO DE JANEIRO - Adoro romances de espionagem, e, ouvindo
o general Jorge Felix na TV, tentei
imaginar uma história em que a segurança de um presidente da América Latina é ameaçada quando um
hacker invade os arquivos dos gastos secretos com cartões corporativos ou suborna funcionários da Visa/Mastercard para obtê-los.
É claro que nenhum esquema de
segurança repete, a cada viagem, a
cada cidade, as mesmas estratégias
de vigilância e prevenção de ameaças à segurança do presidente e sua
família. Tudo depende da situação e
do momento. Então, como as despesas de viagens feitas meses, e até
anos, antes poderiam orientar possíveis atentados à integridade do
presidente? Hummm...
Talvez se fossem usados para
comprar veículos, armamentos e
equipamentos. Mas quem acreditaria que as equipes de segurança presidencial fossem para a rua sem o
melhor de seus equipamentos, armamentos e veículos? O que eles
precisariam comprar de emergência? Um binóculo novo? Um radinho? Um iPhone? Um GPS?
Qualquer conspirador verossímil
buscaria outras fontes de informação sobre os homens, armamentos,
comunicações, localizações e equipamentos do esquema de segurança para um eventual plano de ataque. Nos cartões, seria perda de
tempo: de que valeria saber o que a
comitiva comeu e bebeu, os hotéis
onde dormiram, os remédios que
compraram?
Até se algum louco ousasse planejar o seqüestro de alguém da família do presidente, de que serviriam, para seus planos malignos,
despesas passadas dos cartões de
seus protetores?
Como esses dados poderiam
orientar um seqüestro, uma baderna, um atentado? Nem o mais imaginativo romancista conseguiria
convencer o leitor. Não daria nunca
um romance de espionagem.
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