São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

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Resposta europeia

Pacote bilionário tenta conter ampliação da crise grega, que aumentou riscos de países com contas em desordem

NOS MOMENTOS mais agudos das crises financeiras o tempo político em geral é mais lento que o dos mercados.
Assim vinha sendo até a semana passada. Meses de negociação foram necessários para que a União Europeia pudesse finalmente anunciar, no fim do mês passado, o empréstimo de 110 bilhões (cerca de R$ 250 bilhões) para a Grécia, suficiente para cobrir as necessidades de financiamento do país por quase três anos.
Mas rapidamente viu-se que o esforço político havia sido em vão. O pacote grego carecia do principal: garantias de que funcionaria no longo prazo. Ao exigir cortes profundos de gastos (da ordem de 11% do PIB em três anos), o programa mostrava-se pouco realista e muito recessivo.
A falta de credibilidade foi o fator que desencadeou o contágio dos mercados globais na semana passada, deixando claro para as autoridades que o problema já não era apenas grego. A crise se havia metamorfoseado em choque financeiro regional na Europa -que, se não fosse contido, comprometeria a ainda frágil recuperação mundial.
A perspectiva de uma nova crise sistêmica levou os governos europeus -especialmente o alemão- a abandonar os escrúpulos da não intervenção. A memória fresca do colapso de 2008 acelerou o tempo político.
Às pressas, no fim de semana, foi montado um pacote de socorro de 750 bilhões. Quase 500 bilhões serão usados para garantir o financiamento aos países mais fracos, em troca de compromissos de ajuste fiscal. O FMI entrará com até 250 bilhões para o mesmo objetivo. Por fim, o Banco Central Europeu decidiu comprar diretamente os papéis que sofriam ataque especulativo.
Com isso espera-se quebrar o círculo vicioso e restaurar o funcionamento dos mercados. Ainda não se sabe se o efeito positivo será duradouro. Mas a lição que fica é clara.
O choque que veio à tona com força avassaladora foi consequência da péssima herança fiscal que a crise de 2008 deixou no mundo desenvolvido.
Os custos de contenção da crise e da recessão que a seguiu significaram uma mudança abrupta na situação financeira de países antes considerados sólidos. E esta mudança de regime ainda poderá gerar abalos financeiros imprevisíveis.
Os países que não estão no epicentro da crise, como o Brasil, devem prestar atenção aos acontecimentos. O excesso de endividamento será um forte fator de diferenciação entre países neste mundo mais perigoso.
Qualquer novo golpe no crescimento global pode expor fragilidades onde hoje menos se espera -no Brasil inclusive. Portanto, a prudência na gestão das contas públicas deve ser um objetivo ainda mais fundamental nos próximos anos.


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