|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Que polícia é essa?
SÃO PAULO - "Eles ficaram batendo nele meia hora e depois o enforcaram na minha frente". "Podiam ter prendido por desacato,
mas não precisavam matar. Ele
comprou a moto com tanto sacrifício e ia emplacar na terça-feira".
"Eu tentava segurar a mão do policial e pedia pelo amor de Deus para
que parasse". "Diziam que meu filho era vagabundo, e que eles podiam fazer o que quisessem porque
eram policiais".
Ao ver o filho inerte, "eu ainda tinha esperança de que tinham dado
alguma injeção, mas depois vi o pescoço mole, a baba escorrendo, a poça de sangue crescendo".
São trechos do relato de Maria
Aparecida Menezes. Ela viu o filho
Alexandre dos Santos, de 25 anos,
ser espancado até a morte por policiais na porta de sua casa, em Cidade Ademar, região pobre no extremo sul paulistano. Hoje, o filho deveria estar emplacando a moto que
havia comprado "com tanto sacrifício". Mas ele foi enterrado anteontem, no Dia das Mães.
Alexandre trabalhava como entregador de pizza. Era casado e tinha um filho de 3 anos. A polícia diz
que ele trafegava na contramão e
não parou ao ser abordado, na madrugada de sábado. Diz também
que no hospital foi encontrada uma
arma na sua cintura. Soa como uma
impostura grosseira para atenuar
as circunstâncias boçais do crime.
Há exatamente um mês, PMs assassinaram outro motoboy por espancamento, dentro de uma companhia da corporação. Qualquer
um dos dois episódios bastaria para
constatar que há algo muito errado
na polícia. A estatística reforça essa
evidência: no primeiro trimestre
deste ano, o número de pessoas
mortas em confronto com a PM
paulista subiu 40% -146, contra
104 no mesmo período de 2009.
Os tucanos costumam exibir a
queda expressiva de homicídios em
São Paulo na última década como
um troféu da sua política de segurança. Mas matar jovens pobres na
porrada não é sinal de eficiência
policial. É barbárie. Até quando?
Texto Anterior: Editoriais: Ateus e religiosos
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O castigo vem a camelo Índice
|