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ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES
Globalização: a colonização moderna
Sem sombra de dúvida, a globalização constitui, nos dias de hoje,
um símbolo do modernismo. Não há
quem não diga da sua necessidade,
pois globalizar é competir, é racionalizar seus métodos de trabalho, é dizer
"não" ao protecionismo, principalmente o alfandegário.
Todavia ela é cruel, causando uma
brutal concentração de renda e um
fantástico desemprego cujas reais proporções só poderão ser medidas ao
longo desta década.
Se pararmos para pensar, concluiremos que a globalização sempre existiu. No passado, as ocupações eram
realizadas pelas armas; hoje, elas são
feitas pela eletrônica, com pequenos
toques de computador.
Não defendo aqui a proteção aduaneira ou mesmo favores do governo,
porém, nos países do Primeiro Mundo, nem sempre essas regras são válidas.
Apenas para ilustração, vou citar
aqui dois itens: proteções aduaneiras e
subsídios na área da agricultura dos
EUA e Europa, como o que acontece
com a laranja, a cultura do amendoim
(uma das mais subsidiadas do Hemisfério Norte) e a própria produção do
açúcar de beterraba usado pelos europeus.
Será que algum desses países do Primeiro Mundo abriu mão de suas proteções aduaneiras, como para a laranja, o amendoim ou mesmo o açúcar de
beterraba? Se a palavra de ordem é válida em toda a sua plenitude, por que
persistem essas proteções lamentáveis
por parte dos países ricos?
Se retrocedermos 82 anos, vamos
encontrar, logo após o término da Primeira Guerra Mundial (1918), no continente africano, a Libéria como a única nação independente, com apenas
111 mil km2, criada pela sociedade filantrópica americana. Todos os demais países da África estavam rotulados como colônias e, com isso, propiciaram aos seus "protetores" riquezas
incomensuráveis. Isso ocorreu principalmente no campo mineral com ouro, urânio, cobre, zinco, cobalto, minérios de ferro, bauxita e até mesmo
petróleo.
Hoje, ao observarmos o continente
africano, a visão que temos é a de um
continente perdido, com boa parte de
suas reservas de solo e subsolo dominadas pelas grandes nações e com
uma população de 750 milhões de
pessoas, das quais 40%, ou seja, 300
milhões, na mais absoluta miséria.
Será que esse domínio colonizador
não se preocupou, pelo menos um
pouco, com a educação e a saúde daquela infeliz população? Basta observar o número hoje existente de aidéticos e tuberculosos no continente africano.
Como se vê, a colonização continua
a passos largos, só que, em vez da força dos exércitos, usam-se os mais variados meios eletrônicos para dar cada
vez mais poder aos detentores da tecnologia, desprezando, mais do que
nunca, aqueles que, por motivos outros, não priorizaram a educação.
Dados divulgados pela ONU estimam que os valores diários que tramitam no mundo globalizado atinjam a
enorme cifra de US$ 1,5 trilhão, sendo
que 98% destinam-se à especulação e
apenas 2% ao desenvolvimento econômico do planeta.
Para nós, brasileiros, com o advento
da globalização, ou educamos a nossa
nação com prioridade absoluta ou
não nos restará outra sorte, senão a de
imergir no mundo dos infelizes atrasados e desprezados como ocorreu
com o continente africano. Vamos
trabalhar para evitar esse desastre.
Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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