São Paulo, domingo, 11 de junho de 2000


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ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Globalização: a colonização moderna

Sem sombra de dúvida, a globalização constitui, nos dias de hoje, um símbolo do modernismo. Não há quem não diga da sua necessidade, pois globalizar é competir, é racionalizar seus métodos de trabalho, é dizer "não" ao protecionismo, principalmente o alfandegário.
Todavia ela é cruel, causando uma brutal concentração de renda e um fantástico desemprego cujas reais proporções só poderão ser medidas ao longo desta década.
Se pararmos para pensar, concluiremos que a globalização sempre existiu. No passado, as ocupações eram realizadas pelas armas; hoje, elas são feitas pela eletrônica, com pequenos toques de computador.
Não defendo aqui a proteção aduaneira ou mesmo favores do governo, porém, nos países do Primeiro Mundo, nem sempre essas regras são válidas.
Apenas para ilustração, vou citar aqui dois itens: proteções aduaneiras e subsídios na área da agricultura dos EUA e Europa, como o que acontece com a laranja, a cultura do amendoim (uma das mais subsidiadas do Hemisfério Norte) e a própria produção do açúcar de beterraba usado pelos europeus.
Será que algum desses países do Primeiro Mundo abriu mão de suas proteções aduaneiras, como para a laranja, o amendoim ou mesmo o açúcar de beterraba? Se a palavra de ordem é válida em toda a sua plenitude, por que persistem essas proteções lamentáveis por parte dos países ricos?
Se retrocedermos 82 anos, vamos encontrar, logo após o término da Primeira Guerra Mundial (1918), no continente africano, a Libéria como a única nação independente, com apenas 111 mil km2, criada pela sociedade filantrópica americana. Todos os demais países da África estavam rotulados como colônias e, com isso, propiciaram aos seus "protetores" riquezas incomensuráveis. Isso ocorreu principalmente no campo mineral com ouro, urânio, cobre, zinco, cobalto, minérios de ferro, bauxita e até mesmo petróleo.
Hoje, ao observarmos o continente africano, a visão que temos é a de um continente perdido, com boa parte de suas reservas de solo e subsolo dominadas pelas grandes nações e com uma população de 750 milhões de pessoas, das quais 40%, ou seja, 300 milhões, na mais absoluta miséria.
Será que esse domínio colonizador não se preocupou, pelo menos um pouco, com a educação e a saúde daquela infeliz população? Basta observar o número hoje existente de aidéticos e tuberculosos no continente africano.
Como se vê, a colonização continua a passos largos, só que, em vez da força dos exércitos, usam-se os mais variados meios eletrônicos para dar cada vez mais poder aos detentores da tecnologia, desprezando, mais do que nunca, aqueles que, por motivos outros, não priorizaram a educação.
Dados divulgados pela ONU estimam que os valores diários que tramitam no mundo globalizado atinjam a enorme cifra de US$ 1,5 trilhão, sendo que 98% destinam-se à especulação e apenas 2% ao desenvolvimento econômico do planeta.
Para nós, brasileiros, com o advento da globalização, ou educamos a nossa nação com prioridade absoluta ou não nos restará outra sorte, senão a de imergir no mundo dos infelizes atrasados e desprezados como ocorreu com o continente africano. Vamos trabalhar para evitar esse desastre.


Antonio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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