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São Paulo, quarta-feira, 11 de junho de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

A CPI em risco

BRASÍLIA - A imperícia dos líderes governistas no Congresso e a disputa interna entre dirigentes petistas quase fizeram um bem ao Brasil: a CPI do Banestado poderia ser instalada.
A investigação ajudaria a esclarecer a origem dos cerca de US$ 30 bilhões enviados para fora do Brasil na segunda metade dos anos 90.
Ontem, no final do dia, começou a formar-se uma daquelas ondas gigantes do Pacífico Sul contra a CPI do Banestado. A tsunami criada pelo Palácio do Planalto ameaça cair sobre as cabeças do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), e do líder petista na Casa, Nelson Pellegrino (BA) -os que mais trabalharam pela instalação da CPI.
O caso é curioso para entender o modo de operação do governo de Lula. Dias atrás, os petistas assumiram um custo político grande ao enterrar uma CPI sobre o Banestado no Senado. Todos os 513 deputados federais sabiam que a investigação não interessava ao Palácio do Planalto.
Por que João Paulo e Nelson Pellegrino, entre outros deputados federais, não operaram para seguir pela mesma trilha dos senadores? Um pouco por convicção pode ser a resposta. Mas muito por falta de conexão real entre os operadores de Lula dentro do Congresso.
Casa mais nervosa do que o Senado, a Câmara requer políticos que assumam certos custos e riscos. Nem João Paulo nem Nelson Pellegrino se dispuseram a isso. É necessário registrar, entretanto, que também ninguém do Palácio do Planalto se apresentou aos dois para dizer, com sujeito, verbo e predicado: "O Lula não quer a CPI do Banestado. Dê um jeito de enterrar esse problema".
Há também muito ciúme e disputa política regional no meio disso tudo. O ego dos petistas rivaliza em tamanho com o do de alguns tucanos no governo passado.
Ainda não é certo que a CPI será enterrada. É difícil uma saída técnica no atual estágio. Mas já está claro que muitos governistas sairão chamuscados desse processo.


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