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O incerto e o duvidoso
Presença maior do Brasil no cenário global acaba sendo um dos poucos resultados visíveis no episódio das sanções contra o Irã
Aprovadas as sanções contra o
Irã no Conselho de Segurança da
ONU, encerra-se sem glória, mas
também sem vexame, a participação brasileira nos esforços de intermediar as relações entre o regime de Mahmoud Ahmadinejad e a
comunidade internacional.
Formalmente aceita por Teerã,
a proposta de acordo apresentada
pelo Brasil e pela Turquia, contemplando o enriquecimento de
urânio fora do território persa, não
foi capaz de convencer as principais potências mundiais, em especial os Estados Unidos, de que Ahmadinejad estaria disposto a desistir do projeto de contar com um
arsenal atômico.
São fortes as evidências, com
efeito, de que o plano turco-brasileiro não teria outro efeito a não
ser o de conceder mais tempo para
o regime iraniano prosseguir sem
percalços na construção de uma
bomba atômica.
As dúvidas acerca daquele
acordo não eram muito maiores,
entretanto, do que as existentes
em torno das sanções agora implementadas. Trata-se da quarta,
e mais enfática, tentativa internacional de intimidar as atividades
estratégicas do país persa -e nada indica que venha a apaziguar a
prática e a retórica de um governo
dominado pelo fanatismo religioso, pelos propósitos de hegemonia regional e pela mais furiosa
hostilidade contra o Ocidente.
É reduzido o histórico dos sucessos obtidos por meio de sanções internacionais. O mais eloquente, sem dúvida, foi o que se
registrou no caso da África do Sul:
o cerco diplomático e comercial
contra aquele país teve papel importante, mas não exclusivo, no
fim do "apartheid".
Ocorre que, mal ou bem, a elite
racista do país africano pretendia-se integrada a padrões ocidentais
de consumo e de desenvolvimento; além de enfrentar vigorosa
oposição interna, não estava disposta a pagar o preço de isolar-se
em definitivo.
Em Cuba e na Coreia do Norte,
para citar apenas dois exemplos,
ditaduras se mantêm apesar de
bloqueios duríssimos, e encontram motivos de perversa legitimação nacionalista na própria resistência que opõem à mudança.
Não se sabe até que ponto as
sanções das Nações Unidas irão
fortalecer o movimento interno de
oposição ao regime dos aiatolás; a
ameaça de uma bomba iraniana,
ao que tudo indica, é algo no momento tão próximo -ou tão distante- quanto no caso de se ter
aceitado o acordo proposto pelo
Brasil e pela Turquia.
Por isso mesmo, estes dois países não saem derrotados do episódio, nem parece plausível que venham a sofrer futuramente o peso
de algum estigma antiocidental.
Mostraram-se -e este o objetivo
de toda a coreografia- capazes de
se afirmar como vozes emergentes
no cenário global. Cenário, aliás,
cada vez menos propício à hegemonia de um só país, mas nem por
isto receptivo às virtudes, sempre
escassas, do entendimento e da
negociação.
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