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CARLOS HEITOR CONY
A grande mosca
RIO DE JANEIRO - Minha opinião pessoal não conta, nem por isso dispenso-me de expressá-la. Não aprecio o jornalismo dito investigativo,
que está em moda e provoca desenfreada concorrência entre jornais, revistas, rádios e TVs.
O lado mais evidente desse tipo de
jornalismo confunde-se com o do policial, com a mesma parafernália
(gravações, ciladas, disfarces etc.),
sendo a mais constante a turma dos
alcagüetes, que recebem o batismo
profilático de "fontes" -sobre as
quais é garantido o sigilo.
Seus praticantes acreditam que
prestam um serviço à sociedade, mas,
na maioria dos casos, prestam serviço
a si mesmos e às empresas para as
quais trabalham.
Não confundo, porém, o exercício
puro e simples da função de jornalista com a de detetive emboscando
suas presas, rastreando pistas muitas
vezes falsas, mais tarde demolidas
pela polícia ou pela Justiça.
Dou o belo exemplo da jornalista
Renata Lo Prete, responsável pelas
duas entrevistas com o deputado Roberto Jefferson, ponto de partida para
o escândalo do "mensalão". Ela cumpriu, bem e unicamente, seu papel de
entrevistadora, não pressionou nem
chantageou o entrevistado, foi fiel ao
que ele disse -e basta.
Quanto aos jornalistas investigativos, comeram suculenta mosca profissional. O "mensalão" existe há pelo
menos dois anos, era assunto de comentários gerais no Congresso e fora
dele. Desde o caso da compra de votos
para o segundo mandato de FHC, sabia-se que corria dinheiro em votações importantes.
Esse tipo de jornalismo ou foi incompetente em sua função de investigar, ou omisso -o que equivale a um
certo tipo de cumplicidade. Resumindo: dois dos maiores escândalos dos
últimos tempos foram revelados a
jornalistas que apenas ouviram declarações prestadas livremente pelos
interessados: o caso de Pedro Collor,
que deu origem ao impeachment do
irmão; e agora o de Roberto Jefferson,
que não sabemos ainda no que vai
dar.
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