|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RUY CASTRO
Andando na Lua
RIO DE JANEIRO - Enquanto não
decidem se, um dia, Michael Jackson será enterrado, cremado, embalsamado ou posto em órbita, o luto continua. Para algumas correntes filosóficas, oriundas da escola de
pensamento do Hippopotamus nos
anos 80, ele ficará como um dos
maiores dançarinos da história.
Mas já surgem reflexões mais sóbrias sobre seu talento.
Não há mistério. Michael foi um
legítimo continuador da dança jazzística americana, que, a partir do
pioneiro Willie Covan (1897-1989),
teve, entre centenas de criadores,
Bill "Bojangles" Robinson, os Berry
Brothers, os Nicholas Brothers,
Cab Calloway, a dupla Buck e Bubbles e Sammy Davis Jr., todos
negros. E brancos como Fred Astaire, Eleanor Powell, Hermes Pan,
os irmãos Fred e Gene Kelly, Ann
Miller e Gene Nelson, apenas entre
os famosos.
De 1910 a 1960, esses homens e
mulheres inventaram a gramática
completa do sapateado, inclusive o
"backsliding", em que o dançarino
parece andar para a frente quando,
de fato, está deslizando para trás.
Um de seus primeiros praticantes
foi Cab Calloway, por volta de 1932,
e seu principal aperfeiçoador, pode
crer, foi o mímico francês Marcel
Marceau, nos anos 40.
Em 1982, o jovem Michael viu um
dançarino negro, Jeffrey Daniel,
apresentar o "backsliding" na Disneylândia e contratou-o como professor. Foi Daniel quem coreografou o primeiro show de Michael fazendo "backsliding", no ano seguinte, e também o vídeo "Bad", em
1987. Michael chamou o passo de
"moonwalking" e, quem não o conhecia, achou que ele o inventara.
Na verdade, Michael nunca se
disse inventor do "moonwalking".
E nem poderia, com a quantidade
de imagens no Google mostrando
quase todos os citados acima, negros e brancos, executando-o. É só
escrever, por exemplo, "Cab Calloway" e "moonwalking" e clicar.
Texto Anterior: Brasília - Igor Gielow: O Joffre de cada um Próximo Texto: Cesar Maia: Senado: causas da crise Índice
|