São Paulo, sábado, 11 de julho de 2009

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RUY CASTRO

Andando na Lua

RIO DE JANEIRO - Enquanto não decidem se, um dia, Michael Jackson será enterrado, cremado, embalsamado ou posto em órbita, o luto continua. Para algumas correntes filosóficas, oriundas da escola de pensamento do Hippopotamus nos anos 80, ele ficará como um dos maiores dançarinos da história. Mas já surgem reflexões mais sóbrias sobre seu talento.
Não há mistério. Michael foi um legítimo continuador da dança jazzística americana, que, a partir do pioneiro Willie Covan (1897-1989), teve, entre centenas de criadores, Bill "Bojangles" Robinson, os Berry Brothers, os Nicholas Brothers, Cab Calloway, a dupla Buck e Bubbles e Sammy Davis Jr., todos negros. E brancos como Fred Astaire, Eleanor Powell, Hermes Pan, os irmãos Fred e Gene Kelly, Ann Miller e Gene Nelson, apenas entre os famosos.
De 1910 a 1960, esses homens e mulheres inventaram a gramática completa do sapateado, inclusive o "backsliding", em que o dançarino parece andar para a frente quando, de fato, está deslizando para trás. Um de seus primeiros praticantes foi Cab Calloway, por volta de 1932, e seu principal aperfeiçoador, pode crer, foi o mímico francês Marcel Marceau, nos anos 40.
Em 1982, o jovem Michael viu um dançarino negro, Jeffrey Daniel, apresentar o "backsliding" na Disneylândia e contratou-o como professor. Foi Daniel quem coreografou o primeiro show de Michael fazendo "backsliding", no ano seguinte, e também o vídeo "Bad", em 1987. Michael chamou o passo de "moonwalking" e, quem não o conhecia, achou que ele o inventara.
Na verdade, Michael nunca se disse inventor do "moonwalking". E nem poderia, com a quantidade de imagens no Google mostrando quase todos os citados acima, negros e brancos, executando-o. É só escrever, por exemplo, "Cab Calloway" e "moonwalking" e clicar.


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