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EMÍLIO ODEBRECHT
As novelas e a educação
Provavelmente não há outro país onde as novelas, esta
atração televisiva de presença
mundial, tenham caído tanto
no gosto popular como no
Brasil.
Do ponto de vista da influência nos costumes, ouso
dizer que esse tipo de programa foi, entre nós, mais benéfico que maléfico. Se analisarmos os efeitos sobre a visão de
mundo do brasileiro médio
que as novelas já exerceram,
concluiremos que hoje somos
(até certo ponto, ao menos)
um país melhor também
graças a elas.
Ideias como a da emancipação feminina se disseminaram
no Brasil com a ajuda das novelas. Em anos recentes, abordaram outras questões importantes, como o combate ao racismo e o respeito aos deficientes físicos. E até a demografia do país parece ter sofrido alguma influência.
As famílias nas novelas são,
quase sempre, pequenas e foi
por meio delas que muita gente teve, pela primeira vez, contato com noções de planejamento familiar.
Mas é inescapável reconhecer que também há os efeitos
nocivos, em especial sobre os
jovens. A contínua irradiação
de modismos tolos e a tendência (talvez inerente ao gênero)
de exploração nos enredos de
algumas das piores fraquezas
humanas, como a traição e a
ganância, conferem certa razão àqueles que as apontam
como algo pouco educativo.
O fato é que, com o potencial de influência que têm, as
novelas podem ser mais do
que mero entretenimento e se
tornar instrumentos eficazes
de apoio à formação das
pessoas.
Ao falar em formação, penso no incentivo à agregação familiar, na disseminação de valores, enriquecimento cultural
e motivação aos jovens para
que estudem, se desenvolvam
e empreendam.
Nossos autores, tão talentosos, poderiam usar o meio para inserir (ou reforçar) no ideário do país a crença no trabalho duro e honesto como forma de ascensão social e nos
benefícios que isso representa
para o indivíduo e para a
coletividade.
Tais programas também poderiam servir para orientar a
escolha profissional de rapazes e moças. Para tanto, bastaria que mostrassem, de modo
consistente, a realidade das
várias ocupações do mundo
do trabalho -o que seria de
enorme valia para muitos jovens brasileiros.
O incentivo a comportamentos éticos e os conteúdos
que formam a cultura dos indivíduos não devem ficar restritos aos canais educativos,
às escolas ou às famílias.
As
novelas, forma de arte na qual
somos mestres, podem contribuir e muito para elevar os
brasileiros a mais altos padrões de princípios morais e
cívicos, conhecimento e desenvolvimento pessoal.
EMÍLIO ODEBRECHT escreve aos domingos
nesta coluna.
emilioodebrecht@uol.com.br
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