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NÁUSEA POLÍTICA
Severino Cavalcanti precisa ser
afastado, o mais depressa possível, da presidência da Câmara dos Deputados. As evidências de conduta imprópria, para não dizer delinqüencial,
que vieram avolumando-se durante a
semana tornam esse afastamento imperativo. Mas isso ainda não é o bastante.
Se os deputados -ou pelo menos
suas lideranças mais lúcidas- pretendem dar uma resposta à altura do
que a sociedade espera, deveriam tratar de garantir a eleição de um sucessor que restaure a credibilidade, tão
maltratada, da presidência da Casa.
Não importa de que partido ele ou ela
provenha. Importa que seja nome reconhecido pela probidade, pelo equilíbrio político e pela independência
em face do Poder Executivo.
Se a maioria dos deputados não agir
dessa forma por espírito público, que
o faça ao menos por instinto de sobrevivência. A população está saturada
pela série de revelações escandalosas;
o sentimento de indignação cede lugar a uma espécie de náusea capaz de
alcançar todos os políticos numa
mesma repulsa.
A sociedade e seus principais agentes políticos têm revelado uma paciência quase inesgotável em relação ao
presidente Lula. Depois de trair seu
principal compromisso de campanha, que era a propalada mudança do
"modelo econômico", o presidente
permitiu que a partir de sua assessoria
mais próxima se irradiasse espantoso
esquema de corrupção.
Em nome da preservação da estabilidade, e com base na ausência de prova
quanto ao comprometimento pessoal
do chefe do governo, decidiu-se considerá-lo apenas incompetente para
controlar sua própria administração
em vez de patrocinador das malfeitorias praticadas.
Esse juízo benévolo, adotado tanto
por cálculo como por sabedoria política, é o que tem prevalecido, mas inexiste garantia de que novas revelações
não possam vir a subvertê-lo. Convém
não abusar de uma sociedade já farta
de ser enganada por manipuladores
da credulidade popular, como Collor
e o próprio Lula.
Quanto mais amplas e vigorosas foram as punições políticas, melhor (ou
menos danoso) será o resultado da
crise para o futuro da democracia brasileira. Se algumas dessas punições
não vierem a se confirmar no âmbito
judicial, esse terá sido um preço menor a pagar pelo expurgo que se faz
necessário e inadiável.
Mesmo que realizado sem concessões e do modo mais cabal, é evidente
que um tal expurgo não resolverá o
problema da corrupção, que é endêmico nas democracias modernas.
Mas terá demonstrado que a nossa democracia dispõe de instrumentos que
de fato corrijam desvios e inibam as
práticas mais lesivas ao interesse público. A maior alavanca da corrupção,
como todos sabem, é a impunidade.
Um saldo positivo esta crise já deixou. Esperemos que esteja para sempre enterrado certo maniqueísmo que
ainda dividia os políticos em dois blocos míticos, o do "mal" e o do "bem",
numa polarização ilusória que gera
campo propício a todo tipo de engodo
eleitoreiro.
Como não poderia deixar de ser, políticos são meros seres humanos submetidos a interesses, sujeitos a pressões e passíveis de se corromper sempre que faltem controle público apropriado e precedentes de punição que
os desestimulem.
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