São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2006

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JOÃO SAYAD

Semana da Pátria

IMPOSSÍVEL conversar com tucanos e petistas. Ressentimentos, acusações, desconfiança mútua, discussão bizantina. Petistas e tucanos vêm da classe média, com formações e profissões semelhantes. Entre os tucanos intelectuais, quem não mudou, virou dissidência. Os petistas perderam os intelectuais que não prezavam muito.
Duvido que cheguem a um acordo. Entre próximos, há vínculos emocionais e expectativa de generosidade que vêem os termos de uma negociação como traição ou mesquinharia inaceitável. Mais fácil o nazista se acertar com o comunista do que o social-democrata com o socialista. E o acordo não mudaria nada.
No Evangelho, está escrito que "quando mais de dois de vocês estiverem juntos, Eu estarei entre vós". Também existem filosofias que esperam que a "razão comunicativa" (diálogo) nos leve à verdade. Economistas acreditam que a verdade vem do mercado, e politólogos, do eleitor consciente.
Mas o debate nos levou apenas a uma opinião majoritária e mal informada (sorvete de chocolate com calda de chocolate). E não a uma síntese (goiabada com queijo).
Chegamos a um equilíbrio político barulhento, mas estável: para acabar com a inflação, vale tudo -desemprego, falta de crescimento, qualquer coisa. Por isso, a eleição atual não tem graça nenhuma.
A explicação erudita desse equilíbrio perverso é a de que faltam alternativas. Para os neoconservadores americanos, exclusão e desigualdade são apenas vãos e dobras que mercado e democracia, com o tempo, preencherão. Para os materialistas, precisamos passar por grandes sofrimentos, uma crise mundial, para que nossos cérebros (almas?) sejam capazes de inventar alternativas ao keynesianismo, ao desenvolvimentismo ou à globalização.
Em verdade, para o Brasil, existe solução fácil, ainda que imperfeita: juros menores e câmbio maior.
Cientistas políticos acreditam, por dever de ofício, que os juros dogmáticos do Banco Central tenham uma racionalidade -a astúcia política do presidente. Não se conformam que o fato mais importante da economia brasileira seja devido ao acaso e ao dogmatismo.
Muitos economistas criticam. Mas os políticos brasileiros não acreditam que tanto poderia ser conseguido com tão pouco.
Os cidadãos comuns perguntam -mas, se fosse possível diminuir, por que não diminuem? Nem os judeus acreditavam que eram transportados para campos de extermínio. Não imaginavam que tanta perversidade fosse real. Tenho vergonha de repetir o assunto e incomodar o leitor. Mas, ao final da Semana da Pátria, achei que era minha obrigação.
jsayad@attglobal.net


JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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