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JOÃO SAYAD
Semana da Pátria
IMPOSSÍVEL conversar com tucanos e petistas. Ressentimentos, acusações, desconfiança
mútua, discussão bizantina. Petistas e tucanos vêm da classe média,
com formações e profissões semelhantes. Entre os tucanos intelectuais, quem não mudou, virou dissidência. Os petistas perderam os
intelectuais que não prezavam
muito.
Duvido que cheguem a um acordo. Entre próximos, há vínculos
emocionais e expectativa de generosidade que vêem os termos de
uma negociação como traição ou
mesquinharia inaceitável. Mais fácil o nazista se acertar com o comunista do que o social-democrata
com o socialista. E o acordo não
mudaria nada.
No Evangelho, está escrito que
"quando mais de dois de vocês estiverem juntos, Eu estarei entre
vós". Também existem filosofias
que esperam que a "razão comunicativa" (diálogo) nos leve à verdade. Economistas acreditam que a
verdade vem do mercado, e politólogos, do eleitor consciente.
Mas o debate nos levou apenas a
uma opinião majoritária e mal informada (sorvete de chocolate com
calda de chocolate). E não a uma
síntese (goiabada com queijo).
Chegamos a um equilíbrio político
barulhento, mas estável: para acabar com a inflação, vale tudo -desemprego, falta de crescimento,
qualquer coisa. Por isso, a eleição
atual não tem graça nenhuma.
A explicação erudita desse equilíbrio perverso é a de que faltam alternativas. Para os neoconservadores americanos, exclusão e desigualdade são apenas vãos e dobras que mercado e democracia, com o
tempo, preencherão. Para os materialistas, precisamos passar por
grandes sofrimentos, uma crise
mundial, para que nossos cérebros
(almas?) sejam capazes de inventar
alternativas ao keynesianismo, ao
desenvolvimentismo ou à globalização.
Em verdade, para o Brasil, existe
solução fácil, ainda que imperfeita:
juros menores e câmbio maior.
Cientistas políticos acreditam,
por dever de ofício, que os juros
dogmáticos do Banco Central tenham uma racionalidade -a astúcia política do presidente. Não se
conformam que o fato mais importante da economia brasileira seja
devido ao acaso e ao dogmatismo.
Muitos economistas criticam. Mas
os políticos brasileiros não acreditam que tanto poderia ser conseguido com tão pouco.
Os cidadãos comuns perguntam
-mas, se fosse possível diminuir,
por que não diminuem? Nem os judeus acreditavam que eram transportados para campos de extermínio. Não imaginavam que tanta
perversidade fosse real. Tenho vergonha de repetir o assunto e incomodar o leitor. Mas, ao final da Semana da Pátria, achei que era minha obrigação.
jsayad@attglobal.net
JOÃO SAYAD escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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