São Paulo, sexta-feira, 11 de outubro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

O BC vai ao palanque

SÃO PAULO - Ao dizer que, da parte do governo, não há muito o que fazer para conter a alta do dólar, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, está encurtando o mandato de um presidente que, uma e outra vez, se comprometeu a governar até 31 de dezembro próximo.
Ninguém espera do atual governo que lance, agora, um novo plano educacional, de saúde, ambiental ou que se proponha a construir uma ponte ligando Manaus a Porto Alegre. Espera-se que administre a crise cambial. Ponto.
Se não tem muito o que fazer nessa área, não tem muito a governar. Como o eleito para suceder FHC só governará a partir de janeiro, até lá o país vai ficar à mercê dos mercados.
Pior: por mais que negue, o presidente do BC não permite outra interpretação, que não a eleitoral, para suas declarações.
Vejamos: no dia 19, o presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou-se com os então quatro principais candidatos presidenciais. O que aconteceu? Relata a Folha:
"Depois de se encontrar com os quatro principais candidatos à sua sucessão, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que estava satisfeito porque todos haviam assumido o compromisso de honrar o acordo acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional)".
"Todos disseram que vão honrar", afirmou FHC. Ora, o acordo com o FMI prevê exatamente o que Armínio volta a cobrar agora, quando diz que "existe hoje um clima de medo de que não se vá prosseguir numa trajetória de responsabilidade fiscal e de transparência, medo de que não vá haver um compromisso firme com taxa de inflação baixa".
Ou o presidente mentiu há dois meses, ou o presidente do BC resolveu subir no palanque e fazer o mesmo terrorismo eleitoral que a campanha de Serra ensaiou no início e não foi comprado pelo eleitorado.


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