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TENDÊNCIAS/DEBATES
Lula na TV mentiu, omitiu, perdeu
JORGE BORNHAUSEN
Os poucos números que Lula cita, sobre exportações e superávits, não são obra dele, mas do boom do comércio internacional
O DEBATE entre os candidatos
na TV Bandeirantes mostrou
que há uma pedra no caminho
de Lula: a foto da montanha de dólares e reais petistas do R$1,7 milhão do
dossiê fajuto. O presidente bem que
tentou transpô-la debochadamente, e
foi aí que Alckmin -o discreto, atencioso e cordial Alckmin- ganhou o
debate e a eleição: cobrou com firmeza, exigiu com clareza, indignou-se
com pertinência.
Para Lula, a questão eleitoral está
estacionada aí -na origem do R$1,7
milhão que lhe cabe explicar, pois estava com petistas que não só eram
"companheiros" mas também seus
"amigos do peito", o churrasqueiro, o
marido da secretária, assessores-, e
ele não avança, pelo contrário, recua.
Talvez porque a solução será certamente pior, a confissão de que o crime foi um ato de responsabilidade do
seu comitê de campanha. (Aliás, essa
culpa já foi indiretamente confessada
com a demissão do coordenador da
campanha, Berzoini, também afastado, com desonra, já que exposto a suspeitas, da presidência do PT, além de
admitida por Lula, que alega não ter
culpa dos desvios dos amigos.)
Enquanto isso, mostrando excepcional desenvoltura, o candidato
Alckmin decola. E o faz depois de ter
se dedicado, no primeiro turno, ao desafio de se tornar conhecido e de enfrentar uma grande máquina de propaganda pessoal, montada e tocada
por Duda Mendonça. (O marqueteiro, que confessou e detalhou, na CPI
dos Correios, suas relações financeiras indecorosas e criminosas com o
PT e com a campanha de Lula de
2002, continua impune, camuflado
numa rede de agências de propaganda já montada no país, e usa até a propaganda institucional da Petrobras.)
Assim, vencido o teste do primeiro
turno e impondo seu nome, sua imagem, seu perfil de administrador respeitável, sua história de político sem
mácula, Alckmin adquiriu musculatura eleitoral -tornou-se um competidor com chances de vitória, qualidade exigida pelos eleitores- para desmontar a impostura de chavões, falsificações, alegações mentirosas (enganando os nordestinos com a alegação
de ter realizado obras que não existem, como a ferrovia transnordestina,
a transposição do rio São Francisco, a
refinaria de petróleo do Recife, o pólo
siderúrgico de Fortaleza, a recuperação das rodovias, que só existem no
papel e, às vezes, apenas nas palavras,
pois nem foram planejadas) e, principalmente, princípios.
Cadê a ética de um governo que tem
cinco ministros processados, os quais
Lula não teve coragem de demitir, todos saíram "a pedido", sob pressão da
sociedade, das investigações policiais
e de processos judiciais?
A providência de desmascarar as
mentiras de Lula e de sua propaganda
-inclusive as infâmias, ditas de viva
voz, gravadas e distribuídas à imprensa, nas quais Lula diz que Alckmin
privatizará a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e
os Correios, quando Alckmin jamais
disse isso, ao contrário, assumiu o
compromisso de não fazê-lo- foi
igualmente importante para abrir espaço e falar do problema essencial do
país: a promoção do desenvolvimento
econômico, com redução de impostos, queda de juros e mais empregos.
Os poucos números que Lula cita e
repete, como um realejo, referentes a
exportações e superávits de comércio
exterior, não são obra dele, mas do
boom do comércio internacional, que
o mundo inteiro está aproveitando
muito melhor que o Brasil, tanto que
cresce muito mais (basta citar a Argentina, com 9%, enquanto o Brasil
de Lula ficou em 2,5%).
Ao mentir, omitir -considerando a
história do R$1,7 milhão um reles
mistério policial a ser um dia desvendado (amanhã, depois, no futuro,
quem sabe quando, certamente depois das eleições)- e, conseqüentemente, perder credibilidade e respeito, principal efeito do debate na TV
sobre sua candidatura, Lula decepciona os que o cultivavam e afasta os simpatizantes e eleitores, arrependidos
por terem votado no primeiro turno
num Lula que não existe, antes foi inventado pela propaganda, que substituiu o bravo e respeitável líder sindical por uma triste figura, títere de corruptos e marqueteiros.
Ao mesmo tempo, o confronto
mostrou, pela comparação direta,
instantânea, objetiva, que Alckmin é
firme, enérgico com a corrupção e
com a mentira e, até, mais comprometido com metas sociais que o próprio Lula, já que vai além do Bolsa Família. Promete o que mais faz falta
aos brasileiros mais pobres: emprego,
educação e saúde, itens negativos do
governo petista.
JORGE BORNHAUSEN, 69, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82) e ministro da Educação (governo Sarney)
e da Secretaria de Governo da Presidência da República
(governo Collor).
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