São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Lula na TV mentiu, omitiu, perdeu

JORGE BORNHAUSEN

Os poucos números que Lula cita, sobre exportações e superávits, não são obra dele, mas do boom do comércio internacional

O DEBATE entre os candidatos na TV Bandeirantes mostrou que há uma pedra no caminho de Lula: a foto da montanha de dólares e reais petistas do R$1,7 milhão do dossiê fajuto. O presidente bem que tentou transpô-la debochadamente, e foi aí que Alckmin -o discreto, atencioso e cordial Alckmin- ganhou o debate e a eleição: cobrou com firmeza, exigiu com clareza, indignou-se com pertinência.
Para Lula, a questão eleitoral está estacionada aí -na origem do R$1,7 milhão que lhe cabe explicar, pois estava com petistas que não só eram "companheiros" mas também seus "amigos do peito", o churrasqueiro, o marido da secretária, assessores-, e ele não avança, pelo contrário, recua.
Talvez porque a solução será certamente pior, a confissão de que o crime foi um ato de responsabilidade do seu comitê de campanha. (Aliás, essa culpa já foi indiretamente confessada com a demissão do coordenador da campanha, Berzoini, também afastado, com desonra, já que exposto a suspeitas, da presidência do PT, além de admitida por Lula, que alega não ter culpa dos desvios dos amigos.)
Enquanto isso, mostrando excepcional desenvoltura, o candidato Alckmin decola. E o faz depois de ter se dedicado, no primeiro turno, ao desafio de se tornar conhecido e de enfrentar uma grande máquina de propaganda pessoal, montada e tocada por Duda Mendonça. (O marqueteiro, que confessou e detalhou, na CPI dos Correios, suas relações financeiras indecorosas e criminosas com o PT e com a campanha de Lula de 2002, continua impune, camuflado numa rede de agências de propaganda já montada no país, e usa até a propaganda institucional da Petrobras.)
Assim, vencido o teste do primeiro turno e impondo seu nome, sua imagem, seu perfil de administrador respeitável, sua história de político sem mácula, Alckmin adquiriu musculatura eleitoral -tornou-se um competidor com chances de vitória, qualidade exigida pelos eleitores- para desmontar a impostura de chavões, falsificações, alegações mentirosas (enganando os nordestinos com a alegação de ter realizado obras que não existem, como a ferrovia transnordestina, a transposição do rio São Francisco, a refinaria de petróleo do Recife, o pólo siderúrgico de Fortaleza, a recuperação das rodovias, que só existem no papel e, às vezes, apenas nas palavras, pois nem foram planejadas) e, principalmente, princípios.
Cadê a ética de um governo que tem cinco ministros processados, os quais Lula não teve coragem de demitir, todos saíram "a pedido", sob pressão da sociedade, das investigações policiais e de processos judiciais?
A providência de desmascarar as mentiras de Lula e de sua propaganda -inclusive as infâmias, ditas de viva voz, gravadas e distribuídas à imprensa, nas quais Lula diz que Alckmin privatizará a Petrobras, a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e os Correios, quando Alckmin jamais disse isso, ao contrário, assumiu o compromisso de não fazê-lo- foi igualmente importante para abrir espaço e falar do problema essencial do país: a promoção do desenvolvimento econômico, com redução de impostos, queda de juros e mais empregos.
Os poucos números que Lula cita e repete, como um realejo, referentes a exportações e superávits de comércio exterior, não são obra dele, mas do boom do comércio internacional, que o mundo inteiro está aproveitando muito melhor que o Brasil, tanto que cresce muito mais (basta citar a Argentina, com 9%, enquanto o Brasil de Lula ficou em 2,5%).
Ao mentir, omitir -considerando a história do R$1,7 milhão um reles mistério policial a ser um dia desvendado (amanhã, depois, no futuro, quem sabe quando, certamente depois das eleições)- e, conseqüentemente, perder credibilidade e respeito, principal efeito do debate na TV sobre sua candidatura, Lula decepciona os que o cultivavam e afasta os simpatizantes e eleitores, arrependidos por terem votado no primeiro turno num Lula que não existe, antes foi inventado pela propaganda, que substituiu o bravo e respeitável líder sindical por uma triste figura, títere de corruptos e marqueteiros.
Ao mesmo tempo, o confronto mostrou, pela comparação direta, instantânea, objetiva, que Alckmin é firme, enérgico com a corrupção e com a mentira e, até, mais comprometido com metas sociais que o próprio Lula, já que vai além do Bolsa Família. Promete o que mais faz falta aos brasileiros mais pobres: emprego, educação e saúde, itens negativos do governo petista.


JORGE BORNHAUSEN, 69, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido. Foi governador de Santa Catarina (1979-82) e ministro da Educação (governo Sarney) e da Secretaria de Governo da Presidência da República (governo Collor).

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