São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2011

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Hora da ação

Líderes europeus parecem ter finalmente se convencido de que não resta mais tempo para adiar a solução da crise da dívida nos países do bloco

Se ainda restava dúvida para as autoridades europeias de que o ponto focal da crise que aflige a moeda única é a fragilidade de seus bancos -cada vez mais contaminados pela deterioração dos títulos públicos dos países periféricos em seus balanços-, a derrocada do banco franco-belga Dexia é a prova que faltava.
A estatização do Dexia foi uma ação emergencial para evitar o risco de colapso. O governo belga pagará € 4 bilhões para assumir e manter em funcionamento as operações de varejo do banco. Uma parceria entre Bélgica e, em menor escala, França e Luxemburgo dará garantias de até € 90 bilhões para o restante do grupo.
É uma desagradável lembrança dos piores momentos de 2008, quando governantes afirmaram que bancos privados haviam sido socorridos com dinheiro público pela última vez. Vê-se agora que não é assim -e que a paralisia europeia causada pela crise vai se prolongar.
O resgate do banco franco-belga ao menos ocorreu num momento relativamente oportuno. Como é uma manifestação muito concreta da gravidade da situação, tende a mobilizar ainda mais as atenções dos governantes europeus. Crescem os indícios de que, finalmente, está em preparo uma resposta coordenada e profunda, que talvez seja capaz de estancar o contágio.
A premiê alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sar-kozy, comprometeram-se a apresentar um programa até o dia 3 de novembro, data do encontro do G20, grupo das maiores economias do planeta, em Cannes (França).
Qualquer esforço crível na Europa deverá passar por uma significativa injeção de dinheiro público nos bancos, de até € 200 bilhões. Será também necessário assegurar financiamento aos países solventes, como Itália e Espanha, para que tenham tempo de realizar os cortes de despesa pública de que precisam.
Esse será um pacote mínimo para permitir que a Europa conduza uma reestruturação ordeira da dívida grega, que implicará perdas substanciais para os credores.
Ainda há, entretanto, muitas incertezas sobre os detalhes desse plano. As fontes das quais virá o dinheiro para fortalecer os bancos continuam sendo objeto de controvérsia. Os países mais ricos, como Alemanha e França, terão que colocar recursos em seus bancos, ao passo que a periferia europeia contaria com aportes do fundo de estabilização de € 440 bilhões, que está em fase final de aprovação.
Itália e Espanha, contudo, precisam de recursos numa escala muito maior. O Banco Central Europeu -na prática, a única instituição comunitária funcional ao longo desta crise -resiste em participar.
As próximas duas semanas serão cruciais. Resta o alento de que os europeus parecem, enfim, convencidos da necessidade de uma ação definitiva para espantar o fantasma do colapso financeiro.


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