São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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A tentação verde-oliva

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Parece sedutora a idéia de empregar as Forças Armadas no combate ao crime organizado. Afinal, os militares brasileiros vivem uma espécie de crise existencial porque suas funções clássicas perderam validade no mundo moderno.
Não há hipótese de um conflito regional desde pelo menos a criação do Mercosul. O uso das Forças Armadas contra o que elas chamavam, abusivamente, de "inimigo interno" também perdeu sentido, uma vez que não há mais subversão, com ou sem aspas.
Restaria a defesa do território contra alguma potência, para o que as Forças Armadas notoriamente estão despreparadas em armas e tecnologia.
Logo, é tentador resolver a crise existencial dando tarefas policiais aos militares, certo? Errado, por todos os motivos expostos em editorial desta Folha ontem publicado. Não há espaço para repeti-los.
O que, sim, parece mais lógico é uma relocalização dos efetivos militares, sempre em face das novas condições geopolíticas regionais e globais. Não parece fazer o menor sentido manter um grande quartel, com a lotação correspondente, no parque Ibirapuera, em São Paulo, por exemplo, quando é conhecida a porosidade das fronteiras brasileiras.
Caberia igualmente empenhar as Forças Armadas, mais do que supostamente já o fazem, em tarefas de inteligência, mesmo as relacionadas ao crime organizado. Até porque é razoável supor que os serviços de inteligência norte-americanos, os mais bem dotados do planeta, sentir-se-iam mais à vontade em compartilhar informações com os militares brasileiros do que com os policiais.
A discussão correta, pois, parece ser não o uso das Forças Armadas como um terceiro braço policial, mas sobre as próprias funções delas, nas presentes condições de temperatura e pressão, radicalmente diferentes daquelas em que nasceram e se desenvolveram.


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