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A tentação verde-oliva
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Parece sedutora a idéia
de empregar as Forças Armadas no
combate ao crime organizado. Afinal,
os militares brasileiros vivem uma espécie de crise existencial porque suas
funções clássicas perderam validade
no mundo moderno.
Não há hipótese de um conflito regional desde pelo menos a criação do
Mercosul. O uso das Forças Armadas
contra o que elas chamavam, abusivamente, de "inimigo interno" também
perdeu sentido, uma vez que não há
mais subversão, com ou sem aspas.
Restaria a defesa do território contra
alguma potência, para o que as Forças
Armadas notoriamente estão despreparadas em armas e tecnologia.
Logo, é tentador resolver a crise existencial dando tarefas policiais aos militares, certo? Errado, por todos os motivos expostos em editorial desta Folha ontem publicado. Não há espaço
para repeti-los.
O que, sim, parece mais lógico é uma
relocalização dos efetivos militares,
sempre em face das novas condições
geopolíticas regionais e globais. Não
parece fazer o menor sentido manter
um grande quartel, com a lotação correspondente, no parque Ibirapuera,
em São Paulo, por exemplo, quando é
conhecida a porosidade das fronteiras
brasileiras.
Caberia igualmente empenhar as
Forças Armadas, mais do que supostamente já o fazem, em tarefas de inteligência, mesmo as relacionadas ao
crime organizado. Até porque é razoável supor que os serviços de inteligência norte-americanos, os mais bem
dotados do planeta, sentir-se-iam
mais à vontade em compartilhar informações com os militares brasileiros
do que com os policiais.
A discussão correta, pois, parece ser
não o uso das Forças Armadas como
um terceiro braço policial, mas sobre
as próprias funções delas, nas presentes condições de temperatura e pressão, radicalmente diferentes daquelas
em que nasceram e se desenvolveram.
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