São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2000

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A FARSA DO MST

É nada menos que torpe o comportamento do MST quando insinua que o diretor da Sucursal de Brasília da Folha, Josias de Souza, teria atuado numa manobra orquestrada com o governo federal ao reportar um esquema de desvio de dinheiro público promovido pelo movimento. Como base para sua tacanha argumentação, emessetistas apresentam o fato de que, para chegar aos assentamentos investigados, a equipe deste jornal se utilizou de automóvel oficial do Incra e serviços de um motorista de uma sucursal do órgão no Paraná.
Ainda segundo a ridícula interpretação do MST, o suposto conluio teria ficado atestado pelo fato de que, após a visita dos jornalistas "financiada" pelo governo, o jornal publicou a reportagem relatando um esquema de cobrança de "pedágio" em assentamentos.
A Folha custeou alimentação e hospedagem do motorista do Incra que conduziu seus jornalistas, durante dois dias, a assentamentos no Paraná. Só aceitou a oferta de viajar em carro oficial pelos argumentos da ofertante, superintendente-adjunta do órgão no Estado, de que seria o meio mais seguro. A mesma funcionária se recusou, alegando motivos contábeis, a receber deste jornal pagamento relativo ao combustível consumido. A Folha possui gravada uma declaração da servidora em que ela confirma assim ter procedido.
Se o Incra tomou medidas drásticas após a veiculação do texto, apenas cumpriu sua obrigação. A reportagem, publicada em 14 de maio, relatava como o MST, aproveitando-se de sua posição estratégica de intermediar concessões de crédito estatal para assentados, cobrava taxa de 3% sobre as transações. O percentual também era aplicado sobre compras de material agrícola, adicionado em notas fiscais.
De modo mais simples: o MST financiava-se com dinheiro do contribuinte, inclusive, ao feitio do gangsterismo, negando-se criminosamente a autorizar crédito para assentados que não se dispuseram de bom grado a pagar o pedágio.
É evidente que a manobra agora tentada pelo MST busca desviar a atenção do grave problema levantado na reportagem. Por que o MST não contesta o que foi apurado, em vez de dissimular? Por que não presta os esclarecimentos que até seus simpatizantes aguardam ansiosamente, em vez de esbravejar aos quatro cantos a sua vitimização, acobertando-se, apenas quando lhe é conveniente, no papel de porta-voz dos oprimidos? Porta-voz que não tem hesitado em fazer uso da violência, da violação das leis e - sabe-se graças às reportagens da Folha- do achaque contra vítimas que deveria defender.


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