São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Brasil: força para o crescimento global

DOUGLAS ALEXANDER


O papel do Brasil tem sido vital nas negociações da agenda de Doha, destinada a desenvolver regras globais de mercado mais flexíveis


PROSPERAR em um mercado cada vez mais globalizado é difícil para muitos países. Nos últimos anos, a economia global prosperou, impulsionada por novas tecnologias e economias. Esse processo aumentou a influência de alguns países, como o Brasil, a China e a Índia.
Muitos procuram no Brasil as respostas sobre como adaptar-se à globalização. O papel do Brasil tem sido vital nas negociações da Agenda de Desenvolvimento de Doha (ADD), da OMC, destinada a desenvolver regras globais de mercado mais flexíveis.
O Brasil será mais beneficiado por um acordo do que muitos outros países. Seu índice de crescimento tem sido ultrapassado por outras nações nos anos recentes e, por meio da ADD, o país terá a chance de alcançá-los novamente. Muitas das exportações agrícolas brasileiras sofrem com altas tarifas e cotas. Os produtos industrializados chineses e o setor de serviços indiano, forças motrizes de suas economias, competem em um mercado bem mais liberal.
Há muito a legislação agrícola precisa de liberalização. A agricultura permaneceu sob protecionismo, apesar de sua importância para os países em desenvolvimento. A Rodada Doha oferece uma oportunidade para corrigir esse desequilíbrio. A falta de acordo diminuirá a prioridade dessas questões e o Brasil continuará imobilizado por restrições comerciais.
A conclusão da ADD permitiria ao Brasil lucrar com a redução dos subsídios agrícolas que distorcem o comércio. A UE e os EUA, além de países como o Japão, deixariam de pagar bilhões de dólares em subsídios anuais para fortalecer seus negócios internos. Os produtores brasileiros de algodão poderiam competir melhor com os americanos se fossem adotadas as atuais propostas de redução dos subsídios americanos em 82%.
As portas para os mercados da UE e de outros países desenvolvidos também estariam mais abertas. Propostas atuais sugerem a redução das tarifas agrícolas da UE para quase a metade. Algumas seriam cortadas em 70%. O comércio de produtos como biocombustíveis, cruciais para a economia brasileira futura, seria mais livre.
Mas há também outras razões importantes para concluir um acordo. O Brasil, em sua posição de líder entre os países em desenvolvimento, compartilha da responsabilidade de assegurar que o compromisso de desenvolvimento incluído na Declaração de Doha seja refletido no resultado final da rodada.
Como ministro de Estado para o Desenvolvimento Internacional e ex-ministro do Comércio, fiquei impressionado com o poder do comércio e do investimento para impulsionar o desenvolvimento. O Brasil é um grande exemplo disso, mas outros países -muitos na África- continuam presos em um ciclo de baixo crescimento econômico e pobreza.
Precisamos usar a Rodada Doha como instrumento nivelador e acordar um resultado que ofereça ao mundo em desenvolvimento um acesso real a novos mercados, um sistema mais justo de regras mundiais de comércio e subsídios reduzidos nos países desenvolvidos. A oferta atual ajudaria a atingir esse objetivo, oferecendo aos países em desenvolvimento mais pobres acesso ao mercado para 97% dos seus produtos, particularmente algodão e produtos tropicais.
Isso deve ser complementado por generosas promessas de ajuda em prol do comércio ("aid for trade"), de modo que países em desenvolvimento possam explorar tais oportunidades. Isso só será possível se os doadores cumprirem suas promessas e os países em desenvolvimento expressarem ativamente suas necessidades e preocupações. O Brasil pode ser importante nesse ponto, compartilhando sua experiência e prestando consultoria e assistência a outros países que também possam se beneficiar.
A parceria entre o Reino Unido e o Brasil se baseia em valores comuns, incluindo a visão de um sistema de comércio global mais justo e livre, que atenda melhor às necessidades dos países em desenvolvimento. Compartilhamos um comprometimento com o multilateralismo e concordamos sobre a necessidade de instituições e processos internacionais que reúnam os países para resolver questões de relevância global.
A ADD é uma oportunidade histórica para prosseguirmos em direção a tal visão. O tempo, porém, é curto. Se não ocorrer um avanço expressivo em breve, será difícil, por vários anos, concluir a rodada. As pessoas mais pobres do mundo não podem esperar. Após seis anos de negociações, são poucas as diferenças de opinião entre os membros estratégicos. Precisamos assegurar que o Brasil e o Reino Unido façam sua parte para alcançar um resultado ambicioso e pró-desenvolvimento para a Rodada Doha.


DOUGLAS ALEXANDER , 40, bacharel em direito pela Universidade de Edimburgo (Escócia), é o ministro de Estado para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido.

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