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ELIANE CANTANHÊDE
Quem não brinca em serviço
BRASÍLIA - Parte da Polícia Federal e da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) investiga banqueiros
e ricos em geral, à revelia de seus
comandos diretos. Outra parte se
rebela e... passa a investigar quem
investiga. No final, todo mundo
grampeia todo mundo.
Mais ou menos como na ditadura
militar em Goiás, quando só havia
três categorias de políticos: os que
cassaram, os que foram cassados e
os que cassaram e foram cassados.
Depois de 40 anos, o mesmo
ocorre com o delegado Protógenes,
que perseguiu e agora está sendo
perseguido; invadiu casas num dia e
teve a sua casa invadida no outro.
Ele grampeava uns jornalistas, seus
inimigos na PF grampeiam outros
-aliás, sem autorização judicial.
Se a PF está em pé de guerra, a
Polícia Civil de São Paulo é capaz de
tentar sitiar o Palácio dos Bandeirantes, e as várias polícias do Rio, de
Pernambuco, de Rondônia... parecem tão fora de controle quanto a
própria violência urbana.
Enquanto isso, o governo federal
infla os gastos com o funcionalismo
(a segunda maior despesa da União,
só atrás da Previdência Social, conforme a Folha), e os órgãos de elite
fazem concursos para multiplicar
suas vagas (no Senado, no Ipea, no
TCU...). Mas as polícias nem recebem aumento nem têm juízo, confrontam-se umas com as outras e
aprendem a fazer greves sem deixar as armas em casa.
Os bandidos fazem a festa. Exemplo: uma quadrilha assaltou a delegacia de entorpecentes em Botucatu (SP), arrombou o cofre, levou armas e drogas apreendidas e botou
fogo na papelada sobre criminosos.
Para completar o serviço com chave de ouro, explodiu a sede da delegacia, que voou pelos ares, levando
o que resta de orgulho e de amor-próprio nas nossas polícias.
Coisa de mestre, uma operação
para bandido nenhum botar defeito, e confirma aquela nossa velha
sensação: alguém está ganhando
essa guerra. E não é o Estado.
elianec@uol.com.br
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