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FERNANDO RODRIGUES
Atraso eterno
BRASÍLIA - Lula mudou o decreto do sigilo eterno de FHC. Enviou uma
medida provisória ao Congresso. Deu
passos na direção correta, mas sem
dar o tratamento adequado ao assunto -por desconhecimento, desinteresse e, talvez, por considerar que o
tema não seja relevante.
A MP e o novo decreto de Lula, urdidos pelo stalinismo renitente da
Casa Civil, só tratam de papéis secretos, ultra-secretos, prazos e outros temas que excitariam um agente aposentado da KGB. Estabelece uma esdrúxula exigência: interessados em
ter acesso a papéis públicos devem dizer se desejam só ver ou se vão reproduzir o documento. Por que o Estado
tem de saber o que fará um cidadão
com a informação recebida?
Lula não propôs uma política geral
de arquivos e acesso. É útil notar que
os papéis de interesse público não são
apenas os da ditadura militar. Num
país decente, devem ser acessíveis os
documentos, bilhetes, gravações de
reuniões de qualquer tipo de governante, seja ele o presidente ou um
prefeito do interior.
Como o Brasil decidiu mandar tropas para o Haiti? Onde estão os documentos detalhando o processo? Não
existem. Consta que Lula falou com
Chirac e tomou esse rumo. Onde está
a transcrição desse telefonema?
Da mesma forma, como um prefeito do interior decide asfaltar uma
rua em detrimento de outra? Onde ficam registradas essas decisões?
Vigora no país um desapreço atávico pela documentação de sua história. A obra de maior fôlego sobre a ditadura militar resultou do esforço
pessoal de Elio Gaspari, um jornalista. O Estado esconde dados.
FHC foi um desastre nessa área.
Lula, que repete o tucano na economia, copia-lhe também o fracasso
com arquivos. Agora, inovando. Caberá a José Dirceu expedir "normas
complementares" para uma tal "Comissão de Averiguação e Análise de
Informações Sigilosas". Fantástico.
Quem sabe nessa nova sinecura federal não se cria uma vaga para reempregar Waldomiro Diniz -um dos
maiores detentores de informações
sigilosas da República lulista.
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