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APERTO ADICIONAL
O governo voltou a anunciar
que ampliará ainda mais o volume de recursos que reserva para
pagar os juros de sua dívida. Tantas
vezes repetida, e apresentada como
imprescindível para sustentar a credibilidade da dívida pública, a elevação da meta para o superávit primário foi recebida com entusiasmo por
alguns analistas e com resignação ou
mesmo indiferença por parcela da
opinião pública. É importante lembrar alguns aspectos que justificam
preocupação diante desse fato.
Um ponto central a destacar é que
não há como aumentar o já expressivo aperto fiscal de maneira indolor.
Se houver aumento de impostos, os
cidadãos e as empresas ficarão com
menos renda disponível para gastar e
investir. Se houver cortes de gastos,
serão, como é óbvio, sacrificados os
usuários dos serviços públicos.
Ganhos de eficiência são desejáveis. Mas é fantasioso imaginar que
poderão ser obtidos com rapidez suficiente para impedir que a redução
dos dispêndios com custeio e investimentos prejudique a qualidade dos
serviços à população. A debilidade
do investimento público é fator de
desestímulo para o investimento privado, pois é frequente a complementaridade entre ambos. A crise de oferta de energia representou um eloquente alerta a esse respeito.
Isoladamente, o aumento do superávit primário é prejudicial ao crescimento da economia, pois reduz a demanda. Os defensores do aumento
alegam que, a despeito disso, ele poderá ajudar o país a crescer mais: o
maior aperto fiscal, ao reforçar a credibilidade, permitiria baixar os juros.
O aumento da demanda privada obtido pela redução dos juros mais do
que compensaria o efeito recessivo
do aumento do superávit primário.
Essa é uma possibilidade teórica.
Lamentavelmente, ela não tem sido
verificada no Brasil, na prática. Nos
últimos anos, o superávit primário
aumentou de modo recorrente, mas
os juros continuaram altos, e o crescimento da economia, baixo.
Na próxima semana espera-se que
o Banco Central, ao deliberar sobre
os juros, se apóie no maior aperto
fiscal para, no mínimo, interromper
a escalada da taxa básica.
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