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AMEAÇA INTOLERÁVEL
O anúncio do governador mineiro,
Itamar Franco, de que está convocando a cúpula da Polícia Militar para
uma reunião, tendo um assessor seu
liberado os jornalistas para interpretar como quiserem a notícia, seria
apenas uma "grotesquerie", não pudesse ter desdobramentos imprevisíveis -mas, certamente, nefastos.
O ex-presidente já se mostrara irresponsável ao declarar a moratória
das dívidas de seu Estado, mal se
sentou à cadeira de governador, ridicularizando, a seguir, o efeito que
seu gesto teve sobre a credibilidade
externa do país.
É evidente que não foi a moratória
de Minas que implodiu o real. Mas o
gesto intempestivo não apenas precipitou a crise cambial como serviu para dramatizar as dificuldades que o
Estado brasileiro enfrenta, em todos
os seus níveis, para colocar as contas
em ordem.
O ressentimento de Itamar Franco
com o presidente Fernando Henrique Cardoso e a propalada ambição
de vir a sucedê-lo em 2002 são as explicações mais plausíveis para esses
gestos extremados.
Agora, no entanto, o fato de insinuar o envolvimento da Polícia Militar numa questão que é estritamente
financeira soa como um desafio à
própria estrutura democrática do
país como um todo. Não há indícios
de que a ordem pública esteja sob
ameaça em Minas, nem muito menos de que a ordem constitucional
corra riscos no país. Qual o sentido,
então, dessa mais recente bravata se
não instalar uma escalada de terrorismo verbal?
É grotesco, mas nem por isso deixa
de ser inquietante. Funcionará aos
olhos de observadores externos como um sinal, aliás falso, de que estaria em risco a governabilidade.
Em lugar de dirimir suas pendências com o governo federal por meio
do diálogo, o governador de Minas
apela para recursos de ameaça que
são intoleráveis numa democracia.
Ainda é tempo de o governador cair
em si, pensando mais no Brasil e menos em seus problemas pessoais.
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