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NOVAMENTE AS ENCHENTES
As pesadas chuvas que caíram na
madrugada de ontem voltaram a
transtornar a cidade de São Paulo.
Alagaram bairros inteiros, interditaram pistas das marginais, bloquearam o acesso dos ônibus à rodoviária
e ainda ilharam o aeroporto de Cumbica. O conformismo com esse quadro urbano caótico consistiria em
atribuir superficialmente ao verão
tropical a inevitabilidade de muita
água sobre o município.
Mas o que existe em verdade é um
acúmulo de dívidas com o planejamento urbano e um histórico de imprevidências que cada vez mais dificultam a rotina do paulistano.
São dívidas contraídas no passado
por uma urbanização inadequada e
insensata, que permitiu o loteamento desordenado, sem espaços verdes
suficientes e sem pequenas áreas não
revestidas em cada residência, que
manteriam o solo permeável e não levariam as águas a escorrer por essa
combinatória compacta de cimento e
asfalto.
Há em seguida dívidas mais recentes, com um Estado em anos atrasado no aprofundamento da calha do
Tietê, com uma prefeitura falida e incapaz de instalar os planejados piscinões ou de cumprir sua comezinha
obrigação de manter desobstruídos
galerias pluviais e bueiros.
Esses e outros descuidos com o
funcionamento da cidade tendem
progressivamente a se agravar, num
horizonte de arrecadação decrescente e já comprometida com dívidas irresponsáveis que o município contraiu em administrações anteriores.
A São Paulo dos acadêmicos e literatos talvez tenha sido profícua em
pensar modelos sociais. Mas foi avara ao sonhar com modelos urbanos e
reunir uma coligação de munícipes
com poderes para para dar à cidade
condições menos caóticas.
Estragos grandes já foram feitos.
Mas, para que novas bombas de efeito retardado não estourem nas próximas décadas, é preciso radicalizar a
idéia de uma cidade mais viável e exigir que essa idéia realmente preocupe futuras administrações.
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