São Paulo, Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 1999
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NOVAMENTE AS ENCHENTES

As pesadas chuvas que caíram na madrugada de ontem voltaram a transtornar a cidade de São Paulo. Alagaram bairros inteiros, interditaram pistas das marginais, bloquearam o acesso dos ônibus à rodoviária e ainda ilharam o aeroporto de Cumbica. O conformismo com esse quadro urbano caótico consistiria em atribuir superficialmente ao verão tropical a inevitabilidade de muita água sobre o município.
Mas o que existe em verdade é um acúmulo de dívidas com o planejamento urbano e um histórico de imprevidências que cada vez mais dificultam a rotina do paulistano.
São dívidas contraídas no passado por uma urbanização inadequada e insensata, que permitiu o loteamento desordenado, sem espaços verdes suficientes e sem pequenas áreas não revestidas em cada residência, que manteriam o solo permeável e não levariam as águas a escorrer por essa combinatória compacta de cimento e asfalto.
Há em seguida dívidas mais recentes, com um Estado em anos atrasado no aprofundamento da calha do Tietê, com uma prefeitura falida e incapaz de instalar os planejados piscinões ou de cumprir sua comezinha obrigação de manter desobstruídos galerias pluviais e bueiros.
Esses e outros descuidos com o funcionamento da cidade tendem progressivamente a se agravar, num horizonte de arrecadação decrescente e já comprometida com dívidas irresponsáveis que o município contraiu em administrações anteriores.
A São Paulo dos acadêmicos e literatos talvez tenha sido profícua em pensar modelos sociais. Mas foi avara ao sonhar com modelos urbanos e reunir uma coligação de munícipes com poderes para para dar à cidade condições menos caóticas.
Estragos grandes já foram feitos. Mas, para que novas bombas de efeito retardado não estourem nas próximas décadas, é preciso radicalizar a idéia de uma cidade mais viável e exigir que essa idéia realmente preocupe futuras administrações.


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