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IMPRESSÕES DIGITAIS
Está próximo , ao que tudo indica, aquele que será o marco
zero da TV digital no Brasil: o decreto
do presidente da República definindo a tecnologia de modulação do sistema que promete revolucionar as
comunicações. A decisão do governo
Luiz Inácio Lula da Silva está tomada
em favor do padrão japonês.
Em si mesma, a opção por conduzir a toque de caixa a escolha da tecnologia que norteará o Sistema Brasileiro de TV Digital já demarca os interesses derrotados. Ficou em segundo plano a tarefa fundamental: elaborar um novo modelo de dispor de
um bem público -a banda de transmissão- no contexto em que a digitalização vai multiplicar as oportunidades de uso desse espaço.
Não pode passar sem crítica a atuação do ministro das Comunicações
ao longo do processo. Hélio Costa
(PMDB-MG) não escondeu sua preferência por um dos padrões, quando seu papel teria de ser o de árbitro
da disputa, a fim de maximizar concessões a favor do país, de seus cidadãos e de suas indústrias. Distanciando-se da sua condição de autoridade pública e aproximando-se do
lobby, comportou-se como defensor
dos interesses das redes de TV.
Surgiram dúvidas acerca da informação -que o ministério de Costa
se contenta em repassar- de que
uma contrapartida da escolha do padrão japonês seria o compromisso
do país asiático de investir U$ 2 bilhões em uma fábrica de semicondutores no Brasil. Consultados, produtores do Japão não confirmaram o
investimento. Dizem que se comprometeram a "estudar" o assunto.
Uma nova fábrica decerto amenizaria a expectativa de que os consumidores brasileiros devem pagar
mais caro para converter seus televisores à nova tecnologia. O modelo
não foi adotado em nenhum outro
país a não ser no próprio Japão, o
que limita a escala de produção e,
por conseqüência, a queda de custos.
No futuro, a chamada convergência de mídias -o fim das fronteiras
entre radiodifusão, telefonia e internet- vai impor-se de modo inexorável, levando de roldão todas as barreiras legais que hoje dificultam seu
desenvolvimento no Brasil. As redes
de TVs sabem que terão concorrência pesada quando isso acontecer.
Portanto, não é pequena a vantagem
que as emissoras conquistam nessa
disputa estratégica com a escolha do
padrão japonês. De saída, afastam a
concorrência das companhias telefônicas, pois poderão transmitir conteúdo diretamente para celulares.
Disputas empresariais, porém, não
deveriam ser o foco principal da
atuação do poder público. Para a população, pouco importa se os interesses das telefônicas prevalecerão
sobre os das emissoras ou vice-versa
-como pouco relevante é a tecnologia escolhida.
A TV digital -seja no padrão europeu, seja no japonês- compacta a
taxas altíssimas a informação a ser
emitida e aumenta exponencialmente a capacidade de difusão de dados
pelo ar. A faixa em que hoje trafega
uma transmissão televisiva poderá
ser ocupada por seis emissoras. Ainda que a maior parte do potencial extra seja usada para melhorar a qualidade da imagem (TV de alta definição), restará espaço para outros fins.
Abre-se uma oportunidade de democratizar a radiodifusão. O modelo
de exploração da TV digital não pode
partir do pressuposto de que a concessão que as redes detêm para
transmitir imagens significa monopólio de uma faixa de freqüência. Essa é a discussão que mais interessa à
sociedade. Ela transcende disputas
circunstanciais entre padrões tecnológicos ou setores empresariais.
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