São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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INTERNAÇÕES EM UTI

Faz sentido a idéia do governo de estabelecer diretrizes para internações em unidades de terapia intensiva (UTIs). Esses leitos reservados para pacientes graves existem em número finito e menor do que o necessário. A expansão é necessária e deve ser perseguida. Mas, mesmo que não houvesse déficit de vagas, seria bem-vinda uma seleção mais cuidadosa dos pacientes que devem seguir para uma UTI.
Não se trata aqui de escolher quem vai morrer ou de interferência estatal sobre destinos individuais, mas apenas de tentar disseminar o bom senso. Todos concordarão que um adolescente que tenha sofrido um acidente e tenha boas chances de recuperação deve ter prioridade num leito de UTI. De modo análogo, pode-se afirmar que a maioria considerará cruel manter por todos os meios a vida de um paciente terminal de câncer que padeça de dores excruciantes. Grande parte do problema reside em decidir sobre casos menos óbvios.
O Ministério da Saúde deve, sim, propor critérios com base em evidências clínicas e estatísticas, mas não deve esperar que as normas sejam aplicadas à risca. Cada caso é único, e a decisão final só pode caber ao médico, que é quem está em contato com o paciente e seus familiares.
As regras devem servir mais para tentar promover entre profissionais de saúde e a sociedade em geral uma mudança de cultura, que valorize a qualidade de vida. Isso se faz ao oferecer ao médico argumentos que possam ser usados para justificar a manutenção de certos pacientes graves no leito comum ou em casa.
Subjaz a essa questão das UTIs o problema dos custos em medicina. Argumentos financeiros não devem ser decisivos, mas tampouco podem ser ignorados. E novas tecnologias, que são usadas intensivamente em UTIs, são sempre muito caras. Trata-se de um remédio que precisa estar ao alcance do maior número possível de pacientes. E isso, num contexto de carência de recursos, exige que seja utilizado com parcimônia.


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