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CLÓVIS ROSSI
É papa, mas não é Deus
ROMA - Visto do Vaticano (ou da Roma que o circunda por inteiro), o poder do papa parece infinitamente
maior do que de fato é.
Um claro exemplo da supervalorização do poder do papado está em
artigo para "La Repubblica" de um
dos vaticanistas mais celebrados,
Marco Politi, reproduzido ontem por
esta Folha.
Diz Politi: "Washington não tem
interesse em que surja um novo pontífice independente e crítico como
Karol Wojtyla".
Pode até ser, mas há fatos -e não
especulações- que indicam precisamente o contrário.
Fato 1 - O papa João Paulo 2º mandou um dos diplomatas mais hábeis
do Vaticano, Pio Laghi (foi núncio
apostólico no Brasil, por exemplo),
para tentar convencer o presidente
George Walker Bush a não ir à guerra contra o Iraque. Bush não lhe deu
a menor atenção.
Fato 2 - Bush foi à guerra, contra os
apelos públicos do papa, e, não obstante, obteve, na primeira eleição seguinte, maciça votação entre os cristãos, católicos inclusive.
Por que, então, Washington se incomodaria com a "independência"
de um papa, qualquer que fosse, se
pode fazer o que lhe dá na telha e não
sofrer conseqüências nem em termos
diplomáticos internacionais nem em
termos de perda de apoio na opinião
pública local?
Fica, então, combinado o seguinte:
o papa, qualquer que seja eleito, tem
muito pouca importância no xadrez
geopolítico mundial. Pode ter importância em assuntos digamos morais,
pela suposta (ou real) influência na
opinião pública.
Mas, nesse ponto, João Paulo 2º não
tinha diferenças de fundo com os
neoconservadores norte-americanos.
E, entre os cardeais dos quais sairá o
seu sucessor, tampouco há algum que
tenha uma visão profundamente diferente (e, portanto, liberal) em matéria de aborto, casamento de homossexuais etc.
@ - crossi@uol.com.br
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