São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2005

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CLÓVIS ROSSI

É papa, mas não é Deus

ROMA - Visto do Vaticano (ou da Roma que o circunda por inteiro), o poder do papa parece infinitamente maior do que de fato é.
Um claro exemplo da supervalorização do poder do papado está em artigo para "La Repubblica" de um dos vaticanistas mais celebrados, Marco Politi, reproduzido ontem por esta Folha.
Diz Politi: "Washington não tem interesse em que surja um novo pontífice independente e crítico como Karol Wojtyla".
Pode até ser, mas há fatos -e não especulações- que indicam precisamente o contrário.
Fato 1 - O papa João Paulo 2º mandou um dos diplomatas mais hábeis do Vaticano, Pio Laghi (foi núncio apostólico no Brasil, por exemplo), para tentar convencer o presidente George Walker Bush a não ir à guerra contra o Iraque. Bush não lhe deu a menor atenção.
Fato 2 - Bush foi à guerra, contra os apelos públicos do papa, e, não obstante, obteve, na primeira eleição seguinte, maciça votação entre os cristãos, católicos inclusive.
Por que, então, Washington se incomodaria com a "independência" de um papa, qualquer que fosse, se pode fazer o que lhe dá na telha e não sofrer conseqüências nem em termos diplomáticos internacionais nem em termos de perda de apoio na opinião pública local?
Fica, então, combinado o seguinte: o papa, qualquer que seja eleito, tem muito pouca importância no xadrez geopolítico mundial. Pode ter importância em assuntos digamos morais, pela suposta (ou real) influência na opinião pública.
Mas, nesse ponto, João Paulo 2º não tinha diferenças de fundo com os neoconservadores norte-americanos. E, entre os cardeais dos quais sairá o seu sucessor, tampouco há algum que tenha uma visão profundamente diferente (e, portanto, liberal) em matéria de aborto, casamento de homossexuais etc.

@ - crossi@uol.com.br


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