São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2007

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Em causa própria

A INSISTÊNCIA de parlamentares em desprezar lições da história recente e atropelar a opinião pública às vezes chega a espantar. Não é à toa que, pesquisa após pesquisa, a popularidade dos legisladores não dá nenhum sinal de recuperação.
Na terça-feira, a Câmara dos Deputados tornou oficial uma distorção que já ocorria na prática. Aboliu as segundas-feiras de seu calendário de trabalho -o que representa um aumento de 20% por hora trabalhada- e voltou a tramar a majoração de seus salários em 26%.
No mesmo dia, os vereadores paulistanos aprovaram um pacote de benesses que inclui aumento das verbas de gabinete, mais liberdade para gastá-las e a permissão para contratar cabos eleitorais com dinheiro público.
Na semana anterior, havia sido a vez da Assembléia Legislativa de Alagoas, que, derrubando veto do governador, elevou os contracheques dos deputados estaduais de R$ 6.300 para R$ 9.500.
Aqui os legisladores agiram não como representantes do eleitorado, mas como um grupo com interesses específicos e munido do poder de impor a toda a sociedade a conta das regalias que se autoconcede. O resultado é, como não poderia deixar de ser, o crescente desgaste da imagem dos parlamentares.
A melhor maneira de tentar reverter essa preocupante situação seria as principais lideranças parlamentares do país adotarem uma agenda ética, com vistas a resgatar a credibilidade do Parlamento. Ocasiões não faltam.
Tramitam no Congresso várias propostas que atenderiam à exigência, como a que acaba com o voto secreto no Legislativo e a que põe fim ao nepotismo no Poder, para citar apenas dois exemplos. Só que, em vez de aprová-las logo, parlamentares as "esquecem" nos escaninhos ou se põem a atenuá-las para preservar interesses particulares.


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