|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em causa própria
A INSISTÊNCIA de parlamentares em desprezar lições
da história recente e atropelar a opinião pública às vezes
chega a espantar. Não é à toa que,
pesquisa após pesquisa, a popularidade dos legisladores não dá
nenhum sinal de recuperação.
Na terça-feira, a Câmara dos
Deputados tornou oficial uma
distorção que já ocorria na prática. Aboliu as segundas-feiras de
seu calendário de trabalho -o
que representa um aumento de
20% por hora trabalhada- e voltou a tramar a majoração de seus
salários em 26%.
No mesmo dia, os vereadores
paulistanos aprovaram um pacote de benesses que inclui aumento das verbas de gabinete, mais
liberdade para gastá-las e a permissão para contratar cabos eleitorais com dinheiro público.
Na semana anterior, havia sido
a vez da Assembléia Legislativa
de Alagoas, que, derrubando veto
do governador, elevou os contracheques dos deputados estaduais de R$ 6.300 para R$ 9.500.
Aqui os legisladores agiram
não como representantes do
eleitorado, mas como um grupo
com interesses específicos e munido do poder de impor a toda a
sociedade a conta das regalias
que se autoconcede. O resultado
é, como não poderia deixar de
ser, o crescente desgaste da imagem dos parlamentares.
A melhor maneira de tentar reverter essa preocupante situação
seria as principais lideranças
parlamentares do país adotarem
uma agenda ética, com vistas a
resgatar a credibilidade do Parlamento. Ocasiões não faltam.
Tramitam no Congresso várias
propostas que atenderiam à exigência, como a que acaba com o
voto secreto no Legislativo e a
que põe fim ao nepotismo no Poder, para citar apenas dois exemplos. Só que, em vez de aprová-las logo, parlamentares as "esquecem" nos escaninhos ou se
põem a atenuá-las para preservar interesses particulares.
Texto Anterior: Editoriais: O federalista Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Vassoura e detergente neles Índice
|