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O outro lado
Após governo sem brilho em SP, José Serra deve levar a uma disputa mais madura e propositiva pela Presidência do país
NO MOMENTO em que as
primeiras movimentações da postulante
governista à eleição
presidencial pautavam-se pela
vacuidade propositiva, pelo frenesi marqueteiro e pelo intuito
de convocar o eleitor para um
pueril plebiscito entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e
Fernando Henrique Cardoso, o
discurso de lançamento da candidatura do ex-governador José
Serra deixou esperanças quanto
a uma disputa mais madura, serena e voltada para temas que interessam ao futuro do país.
O candidato tucano não detalhou propostas e não submeteu à
opinião pública um plano de governo, mas esclareceu com que
intenções e princípios pretende
chegar ao Planalto. Percorreu as
principais áreas de atuação do
Estado e, entre outros tópicos,
deteve-se na estagnação da escolaridade entre adolescentes, na
importância do ensino técnico,
nos compromissos com a saúde
pública, na proposta de mais participação federal na segurança e
nos descaminhos da atuação diplomática. No terreno econômico, criticou o baixo nível dos investimentos governamentais e
alertou para os riscos de desequilíbrio nas contas externas.
Sem citar nomes, Serra sublinhou aspectos negativos associados ao lulismo e ao PT, como o
sectarismo, a intolerância e o fisiologismo corrupto. Insistiu no
mote do "Brasil pode mais" e
procurou desmontar a estratégia
do "nós contra eles". Rechaçou a
ideia de "dividir o Brasil" entre
pobres e ricos e lançou-se como
um conciliador que aspira a governar "com todas e todos, sem
discriminar ninguém".
A cerimônia surpreendeu pelo
ânimo e pela aparente unidade
das lideranças social-democratas, com a marcante presença do
ex-governador mineiro Aécio
Neves, que chegou a reacender
na plateia tucana o bordão da
chapa "puro-sangue".
Derrotado por Lula em 2002, o
ex-governador declarou, em entrevista à Folha, que teria aprendido com a derrota. Não se sabe
no entanto como o candidato de
agora será diferente daquele de
oito anos atrás. Certo é que depois de sua inconclusa passagem
pela prefeitura, Serra fez, em
quatro anos, um bom governo no
Estado de São Paulo, aprovado
por 55% da população -mas
sem o brilho de sua passagem
pelo Ministério da Saúde.
Os números de sua administração, dissecados ontem pela
Folha, mostram que as críticas
endereçadas às dificuldades de
investimento do governo federal
serviriam para sua própria gestão. O ex-governador no entanto
soube criar receitas temporárias
e superar de maneira convincente a performance do antecessor.
Sua principal vitrine foram as
obras viárias, com destaque para
o Rodoanel e a ampliação da
marginal do Tietê, e as melhorias
na rede de trens e metrô. São
sem dúvida significativas para
uma cidade como São Paulo.
Ainda é cedo para saber até que
ponto a versão "paz e amor" de
José Serra irá predominar e será
eficiente em termos eleitorais.
Mas a campanha ganhou, enfim,
um outro lado.
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