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CONFUSÃO ELÉTRICA
Completou-se ontem um mês desde que metade do país foi lançada na
escuridão pelo maior blecaute de sua
história. Mas ainda não se sabe se os
maiores desacertos governamentais
aconteceram antes, durante ou após
a ocorrência. As autoridades do setor
elétrico nada conseguem -ou nada
pretendem- explicar. Tudo é desinformação, descaso, desplante.
Nas mais de quatro horas de apagão, nem o ministro das Minas e
Energia, Rodolpho Tourinho, nem
autoridade alguma do primeiro escalão de Brasília dirigiu palavras de
orientação ao público. De duração
por si só inusitada, indicativa de despreparo diante da emergência, o blecaute decerto teria tido consequências muito mais graves se ocorrido
num final da tarde.
Em seguida, o governo federal consumiu o intervalo inacreditável de 20
horas e 29 minutos para sair-se com
a explicação que suscitou imediato
descrédito: um raio na subestação de
Bauru (SP). Desde então, a causa
apontada vem apresentando mais furos do que o isolador fotografado na
subestação como suposta prova da
descarga atmosférica. Especialistas e
sistemas de monitoramento de raios
descartam que um deles tenha caído
no local. O dano na peça de metal,
sabe-se agora, é compatível com um
curto-circuito na subestação provocado por outras causas.
Se a posteriori a versão não se sustenta, como se explica que tenha sido
apresentada como fato inquestionável ao público na primeira hora, o
momento de maior insegurança e incerteza para todos? Má-fé e irresponsabilidade tornam-se hipóteses crescentemente plausíveis, diante da renitente omissão governamental.
Outra possibilidade é que administradores do sistema elétrico tenham
sentido a obrigação de ocultar a chocante vulnerabilidade do setor, quiçá
para não dar argumentos a adversários da privatização, o que seria estultice. O próprio Ministério das Minas e Energia estima que sejam necessários investimentos de R$ 30 bilhões no próximo biênio para dar estabilidade ao sistema, cifra fora do
alcance de um Estado depauperado.
Mais de 30 dias após o apagão, o
governo federal ainda não cumpriu
com a obrigação mínima de prestar
esclarecimentos completos. A persistir na confusão maliciosa, terminará por inculcar na sociedade a convicção de que não se constrange em
reservar-lhe o papel de palhaço.
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