São Paulo, Segunda-feira, 12 de Abril de 1999
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DEVASTAÇÃO INVISÍVEL

A pesquisa ambiental com satélites deu nas últimas décadas um salto considerável no Brasil, criando instrumento imprescindível para injetar objetividade em tema tão preocupante e sujeito a mistificações quanto a destruição da Amazônia. Desse campo de investigação parte agora novo alerta: o sensoriamento remoto realizado pelos satélites só detecta uma fração da devastação efetiva.
O assunto ganhou a capa da última edição da revista "Nature", prestigiada publicação científica britânica. Seis pesquisadores do Brasil e seis dos Estados Unidos compararam estimativas de desmatamento por satélite com dados de campo obtidos em 1.393 das 2.533 madeireiras e serrarias da Amazônia (número que tende a ampliar-se com a crescente cobiça de empresas do Sudeste Asiático, cujo estoque de madeiras nobres se aproxima do esgotamento).
Descobriu-se que os danos "invisíveis" causados pela atividade de extração seletiva, na qual boa parte da floresta permanece de pé, alcançam 10 mil a 15 mil quilômetros quadrados anuais. Já a superfície em que toda a cobertura é retirada por corte raso e queimadas, devastação que pode ser detectada por satélite, atingiu em 1998 quase 17 mil quilômetros quadrados. Ou seja, algo entre metade e dois terços do dano total.
Na derrubada de árvores escolhidas, abrem-se picadas e clareiras que aumentam a incidência do sol e contribuem para ressecar a floresta, que se torna assim mais vulnerável a incêndios descontrolados. É mais um fator a complicar a ação de órgãos de fiscalização como o Ibama, já consideravelmente prejudicada por focos de corrupção e pela mentalidade predatória na ocupação desordenada da maior floresta equatorial do planeta.


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