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SONHO SUL-AMERICANO
Pode-se acusar o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de algumas drásticas mudanças
de rota em relação a compromissos e
posições históricas de seu partido.
Mas seria injusto dizer que, em matéria de política externa, o presidente
tenha se afastado do que disse em
sua posse: "A grande prioridade da
política externa durante o meu governo será a construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social", disse.
Se o subcontinente chegará tão
longe é questão aberta. Mas, que as
fichas externas do governo Lula estão sendo colocadas firmemente na
América do Sul, não há dúvida.
Mesmo o BNDES, pouco ou nada
usado como instrumento diplomático, está agora na linha de frente,
abrindo financiamento para importações de produtos e serviços brasileiros feitas pelos vizinhos.
A prioridade sul-americana tem
uma lógica simples: é a única área do
planeta em que o Brasil pode, de fato, exercer alguma influência e, até
mesmo, a liderança.
Mas liderança sempre tem custos,
não apenas o custo de financiar operações comerciais dos vizinhos, mas
também o de adotar políticas internas que sustentem a diplomacia.
Um exemplo, entre tantos, é bastante atual: a relação entre o real, que
vem se revalorizando, e o dólar influi
fortemente no comércio regional.
Quando a Argentina fixou o peso
ao dólar, um por um, e o real permaneceu subvalorizado, explodiu o déficit comercial do vizinho em relação
ao Brasil. O inverso se deu quando, a
partir do Plano Real, a moeda brasileira se apreciou.
Decidir, portanto, se se vai ou não
intervir no câmbio, como e quanto,
significa também fazer diplomacia,
para o bem ou para o mal.
Ou, posto de outra forma, enquanto as políticas internas do governo
Lula não estiverem mais solidamente
desenhadas, o projeto sul-americano
será apenas um sonho.
Um sonho lógico, mas sonho.
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