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São Paulo, segunda-feira, 12 de maio de 2003

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SONHO SUL-AMERICANO

Pode-se acusar o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de algumas drásticas mudanças de rota em relação a compromissos e posições históricas de seu partido. Mas seria injusto dizer que, em matéria de política externa, o presidente tenha se afastado do que disse em sua posse: "A grande prioridade da política externa durante o meu governo será a construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida, com base em ideais democráticos e de justiça social", disse.
Se o subcontinente chegará tão longe é questão aberta. Mas, que as fichas externas do governo Lula estão sendo colocadas firmemente na América do Sul, não há dúvida.
Mesmo o BNDES, pouco ou nada usado como instrumento diplomático, está agora na linha de frente, abrindo financiamento para importações de produtos e serviços brasileiros feitas pelos vizinhos.
A prioridade sul-americana tem uma lógica simples: é a única área do planeta em que o Brasil pode, de fato, exercer alguma influência e, até mesmo, a liderança.
Mas liderança sempre tem custos, não apenas o custo de financiar operações comerciais dos vizinhos, mas também o de adotar políticas internas que sustentem a diplomacia.
Um exemplo, entre tantos, é bastante atual: a relação entre o real, que vem se revalorizando, e o dólar influi fortemente no comércio regional.
Quando a Argentina fixou o peso ao dólar, um por um, e o real permaneceu subvalorizado, explodiu o déficit comercial do vizinho em relação ao Brasil. O inverso se deu quando, a partir do Plano Real, a moeda brasileira se apreciou.
Decidir, portanto, se se vai ou não intervir no câmbio, como e quanto, significa também fazer diplomacia, para o bem ou para o mal.
Ou, posto de outra forma, enquanto as políticas internas do governo Lula não estiverem mais solidamente desenhadas, o projeto sul-americano será apenas um sonho.
Um sonho lógico, mas sonho.


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