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DILEMA DAS DROGAS
O dado, divulgado pelo Ministério da Saúde, de que 80% dos
usuários de drogas injetáveis já tiveram problemas com a polícia é mais
um argumento em favor da descriminalização. Enquanto o consumo
for considerado ilícito, o dependente, por acreditar que poderá ser preso, tenderá a se manter afastado de
todas as instituições que poderiam
auxiliá-lo a se livrar do vício.
Mais do que isso, a ilegalidade estimula o compartilhamento de seringas, o que contribui para submeter o
dependente a maiores riscos. Segundo o Ministério da Saúde, 36,5% dos
usuários estão contaminados com o
vírus causador da Aids, e 56,4% apresentam teste positivo para hepatite C.
Já é hora de o Brasil abandonar o
paradigma da repressão e adotar o
conceito de redução de danos. É uma
ilusão acreditar que o Estado conseguirá impedir as pessoas de se drogarem. O poder público deve, certamente, fazer tudo a seu alcance para
evitar o uso de entorpecentes, mas
sempre haverá usuários e dependentes. Estes últimos devem ter a oportunidade de receber tratamento, se
assim desejarem, porque o tratamento compulsório (como alguns
defendem) é outro contra-senso.
Na verdade, uma política coerente
de redução de danos deveria até debater serenamente a hipótese de o
Estado fornecer a droga para o usuário, o que serviria para esvaziar um
pouco do poder do tráfico. Essa é
uma tese altamente polêmica e contra a qual existem objeções bastante
razoáveis. Mas, uma vez que a estratégia repressiva já deu repetidas mostras de ter fracassado -e no mundo
todo-, é importante cuidar para que
velhos preconceitos não impeçam as
autoridades de lidar melhor com o
problema da dependência.
A droga foi tolamente transformada num problema de polícia. Ela é
por certo um problema, mas de saúde. É exatamente como ocorre com o
álcool, que é também uma droga.
Não se trata de proibir a bebida, mas
de prevenir o alcoolismo e oferecer
condições para que as pessoas que
desenvolvam dependência tenham
facilitado o acesso a tratamento.
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