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MISSÃO ANTIGENOCÍDIO
Há pouco mais de três anos, a
chamada comunidade das nações vem assistindo praticamente
inerte ao genocídio de Darfur. A assinatura, na semana passada, de um
acordo de paz entre rebeldes dessa
região do oeste do Sudão e o governo
central de Cartum representa a oportunidade que faltava para a ONU
romper sua passividade e agir para
pôr um fim à carnificina, que já provocou a morte de várias dezenas de
milhares -as estimativas variam entre 180 mil e 400 mil- e deixou mais
de 2 milhões desabrigados.
O conflito teve início em fevereiro
de 2003, quando rebeldes de Darfur
pegaram em armas contra a administração central, a que acusavam de
discriminar a população não-árabe.
Em resposta, Cartum passou a armar
e apoiar uma milícia de sudaneses
arabizados, a Janjaweed, a qual deu
início a uma verdadeira campanha
de limpeza étnica que vitimou a população civil da região.
O acordo firmado na semana passada é extremamente frágil e deverá,
como os anteriores, fracassar. Ele
oferece, entretanto, o ensejo para que
as Nações Unidas enviem a Darfur
uma tropa de paz para substituir a
mais do que precária força da União
Africana, que se mostrou incapaz de
evitar a violência. EUA e Reino Unido
já fazem gestões no Conselho de Segurança para que seja aprovada o
quanto antes uma resolução que autorize a missão.
Há várias explicação para a demora
da comunidade internacional em
agir. Elas incluem a relutância de
Washington em indispor-se com
Cartum, que vem colaborando com
os EUA nos esforços contra o terrorismo, e -o que é de pasmar- uma
interminável discussão sobre se a definição de genocídio constante da
Convenção de Genocídio, de 1948, se
aplica ou não à situação em Darfur.
É incrível que, depois da trágica experiência do genocídio de Ruanda de
1994, que custou a vida a quase 1 milhão de pessoas, em grande parte
porque o mundo demorou a agir, a
ONU ainda tergiverse por três anos
antes de tomar uma atitude para acabar com a matança.
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