São Paulo, sexta-feira, 12 de maio de 2006

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MISSÃO ANTIGENOCÍDIO

Há pouco mais de três anos, a chamada comunidade das nações vem assistindo praticamente inerte ao genocídio de Darfur. A assinatura, na semana passada, de um acordo de paz entre rebeldes dessa região do oeste do Sudão e o governo central de Cartum representa a oportunidade que faltava para a ONU romper sua passividade e agir para pôr um fim à carnificina, que já provocou a morte de várias dezenas de milhares -as estimativas variam entre 180 mil e 400 mil- e deixou mais de 2 milhões desabrigados.
O conflito teve início em fevereiro de 2003, quando rebeldes de Darfur pegaram em armas contra a administração central, a que acusavam de discriminar a população não-árabe. Em resposta, Cartum passou a armar e apoiar uma milícia de sudaneses arabizados, a Janjaweed, a qual deu início a uma verdadeira campanha de limpeza étnica que vitimou a população civil da região.
O acordo firmado na semana passada é extremamente frágil e deverá, como os anteriores, fracassar. Ele oferece, entretanto, o ensejo para que as Nações Unidas enviem a Darfur uma tropa de paz para substituir a mais do que precária força da União Africana, que se mostrou incapaz de evitar a violência. EUA e Reino Unido já fazem gestões no Conselho de Segurança para que seja aprovada o quanto antes uma resolução que autorize a missão.
Há várias explicação para a demora da comunidade internacional em agir. Elas incluem a relutância de Washington em indispor-se com Cartum, que vem colaborando com os EUA nos esforços contra o terrorismo, e -o que é de pasmar- uma interminável discussão sobre se a definição de genocídio constante da Convenção de Genocídio, de 1948, se aplica ou não à situação em Darfur.
É incrível que, depois da trágica experiência do genocídio de Ruanda de 1994, que custou a vida a quase 1 milhão de pessoas, em grande parte porque o mundo demorou a agir, a ONU ainda tergiverse por três anos antes de tomar uma atitude para acabar com a matança.


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