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ELIANE CANTANHÊDE
Inimigo externo
BRASÍLIA - Ou é sensatez ou é auto-engano, mas o fato é que o governo
brasileiro continua reagindo com
imensa paciência à agressividade do
presidente da Bolívia, Evo Morales.
Tudo vem num crescendo: Morales
nacionaliza, joga o Exército nas refinarias, expropria e não quer ressarcir. A mais nova ameaça é simplesmente não indenizar a Petrobras pela expropriação, alegando que o contrato foi "ilegal e inconstitucional".
Mas o Brasil continua bonzinho,
achando que a nova investida se encaixa na seguinte categoria: as pessoas falam uma coisa e fazem outra.
Ou: Morales fala uma coisa, enquanto seus ministros negociam outra.
Essa interpretação foi colhida na
providencial nota conjunta do ministro brasileiro de Minas e Energia, Silas Rondeau, e do de Hidrocarburos
da Bolívia, Andres Soliz Rada. Ali há
sinais entendidos como bandeira
branca, como abrir a discussão de
"mecanismos e formas de compensação negociada". Morales disse que
não haveria compensação. Seu ministro explicita que haverá.
Enquanto a oposição grita, os críticos esperneiam e há uma forte pressão para o Brasil usar o "porrete", no
Planalto e no Itamaraty mantém-se
exatamente a mesma postura do início: reagir, sim, mas massacrar, não.
A Bolívia é o país mais pobre da
América do Sul, Morales usa a velha
estratégia do "inimigo externo" para
angariar força política interna em
ano eleitoral, e a grande verdade é
que o Brasil vive sem a Bolívia, mas a
Bolívia sobrevive sem o Brasil?
Numa boa metáfora usada ontem
(e não foi por Lula...), é como timinho
disputando com timão. Todo mundo
torce pelo timinho, que pode dar canelada, enganar o juiz, fazer qualquer coisa. O timão tem de agüentar
o tranco e a torcida. Basta fazer o gol
na hora certa e vencer.
Apesar do jeito espetaculoso, tudo
deve acabar com o Brasil pagando
mais pelo gás boliviano, o que é até
justo. O problema não é a Bolívia. É a
Venezuela, rica e com Chávez cada
vez mais voraz e imprevisível.
@ - elianec@uol.com.br
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