São Paulo, quarta-feira, 12 de junho de 2002

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TRABALHO DE SÍSIFO

Segundo a lenda grega, Sísifo, rei de Corinto, foi condenado pelos deuses ao suplício de rolar permanentemente uma rocha até o alto de uma montanha. Sempre que chegava ao cimo, a pedra despencava, o que obrigava o condenado recomeçar tudo. Daí surgiu a expressão "trabalho de Sísifo" para definir faina esgotante e inútil que, nem bem terminada, tem de ser reiniciada.
O termo serve bem para definir a tentativa da Prefeitura de São Paulo de resolver o problema dos moradores de rua da cidade. Apesar de haver pelo menos três programas oficiais destinados a dar abrigos a esse contingente de cerca de 10 mil pessoas, não se avança muito nessa questão. Pelo cronograma inicial da prefeitura, anunciado em julho do ano passado, em um ano todos os moradores de rua deveriam ter sido encaminhados para novas moradias. O prazo vence no próximo mês. A meta não será cumprida.
As realizações foram na verdade bem mais modestas. No programa destinado aos moradores de viaduto (cerca de 1.200 pessoas), a prefeitura havia conseguido desocupar 17 dos 44 viadutos habitados. Chegou a colocar grades sob as pontes para que elas não voltassem a tornar-se moradias. Em pelo menos três dessas áreas, os esforços foram em vão. Elas foram reocupadas.
Houve, por certo, precipitação da prefeitura ao anunciar metas que não seria capaz de cumprir. Houve também uma piora nas condições sociais do país. Como no mito de Sísifo, a capacidade da cidade de gerar pobreza, de levar pessoas a ter de viver sob os viadutos, parece superar a capacidade da prefeitura de fornecer aos cidadãos o mínimo para que possam tentar reerguer-se.



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