São Paulo, terça-feira, 12 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Renovadores da ciência e do jornalismo

SÉRGIO MASCARENHAS

Hoje comemora-se o centenário de nascimento de José Reis, um dos mais marcantes vultos da ciência e da cultura que o Brasil teve

HOJE, 12 de junho de 2007, comemora-se o centenário de nascimento de José Reis (1907-2002), um dos mais marcantes vultos da ciência e da cultura que o Brasil teve em toda a sua história.
Como cientista, José Reis foi um dos maiores ornitopatologistas que o Brasil produziu. Suas pesquisas sobre patologia aviária se tornaram referência internacional, num país que tem uma das maiores biodiversidades ornitológicas do mundo.
Mas José Reis foi um homem interdisciplinar e intercultural. Foi um dos fundadores da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e é o maior e mais qualificado divulgador da ciência que tivemos. Verdadeiro exemplo em nível internacional, foi ganhador do Prêmio Kalinga para a Popularização da Ciência, criado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Durante toda sua longa e produtiva vida, José Reis criou uma das mais importantes revistas do setor no Brasil, a "Ciência e Cultura", da qual, além de fundador, foi editor-chefe e profícuo colaborador.
Sua mais notável característica era a curiosidade insaciável por filosofia e história da ciência, além de insuperável qualidade de comunicação escrita e oral. Daí por que foi justamente homenageado pelo Conselho Nacional de Pesquisas (atual CNPq, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com a criação do Prêmio José Reis, em 1978. Atribuído em várias categorias, o prêmio é verdadeiro laurel para os que o conquistam, uma espécie de Oscar brasileiro para a divulgação da ciência.
Ele também é honrado com a Cátedra José Reis na USP e com o Núcleo José Reis da ECA-USP, presidido por outro grande cientista e divulgador da ciência, um dos fundadores da genética brasileira: Crodowaldo Pavan.
Pavan e eu fomos companheiros de José Reis na fundação da Academia de Ciências do Estado de São Paulo -Pavan como presidente, Reis como vice e eu como secretário-executivo, cargo depois brilhantemente ocupado por Shigueo Watanabe por vários anos.
Na ocasião da cerimônia de fundação da academia, no Palácio dos Bandeirantes, na presença do então governador, Paulo Egydio Martins, e de Max Feffer, à época secretário de Estado, além das mais importantes personalidades da ciência no país, Reis pronunciou uma das mais profundas análises sobre a fundamental relevância da ciência para o futuro de São Paulo e do Brasil.
Reis, além de cientista, foi também inovador na gestão das instituições públicas, tendo sido um dos pioneiros no setor. Por exemplo, introduzindo na prática a dedicação exclusiva nos serviços públicos, que haveria de ser a mola propulsora do próprio sistema universitário e de instituições de pesquisa e políticas públicas.
Mais que isso, ele foi diretor de Redação da Folha de S.Paulo, onde escreveu até seus últimos dias a famosa coluna "Periscópio", que dava um panorama interdisciplinar e universal da ciência da mais alta qualidade. Reis foi amigo e companheiro de outro grande jornalista, o publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007). Recentemente falecido, Frias tinha uma granja no Vale do Paraíba e procurou José Reis no Instituto Biológico, consultando-o, como grande ornitopatologista, sobre questões de sua granja. Surgiu a partir de então uma grande amizade e virtuosa colaboração entre Reis e Frias.
Reis sempre dizia: "Divulgação da ciência e da cultura, mas com qualidade e ética; não fazer apenas vulgarização".


SÉRGIO MASCARENHAS, 79, físico, é professor emérito do Instituto de Física de São Carlos, da USP.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES
Floriano Pesaro e Ricardo Montoro: Hoje e sempre: não ao trabalho infantil

Próximo Texto: Painel do Leitor
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.