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MELCHIADES FILHO
Minc e o cérebro
BRASÍLIA - Carlos Minc levou
bronca de Lula, foi enquadrado por
Dilma e ouviu até palavrão de colegas de governo. Mas o Planalto deve
um enorme favor ao ministro por
ter provocado tanta "algazarra".
Minc foi escolhido para substituir Marina Silva só porque topou o
papel de carimbador expresso de
obras de infraestrutura. Tem seguido o roteiro, aliás. As usinas de Jirau e Santo Antônio, por exemplo,
receberam sinal verde apesar dos
senões de técnicos do Ibama.
Daí a surpresa que causaram as
"denúncias" do ministro do Meio
Ambiente de derrotas em sua área,
notadamente a medida provisória
que regulariza a posse de terras na
Amazônia. Foi Lula, afinal, quem
produziu a "MP da Grilagem". E foi
a base governista na Câmara que
aprovou a redação final. Durante
semanas, somente uma voz no PT
se elevou contra a manobra: não a
de Minc, mas a de Marina Silva.
Chegou-se a temer que os desabafos repentinos do ministro pudessem estragar o balanço do PAC.
Exagero. Como embaraçar uma cerimônia que anuncia como "concluída" uma rodovia entregue à iniciativa privada, ainda que nenhum
quilômetro tenha sido asfaltado?
Dilma Rousseff nem piscou, claro,
ladeada de reverentes companheiros da Esplanada, numa espécie de
Santa Ceia do primeiro escalão.
Diminuído, Minc recuou. Disse
que antes de tudo era um "homem
do governo" e que havia opinado
em nome de "amigos e eleitores".
Podia até ser. Mas o esperneio do
ministro acabou jogando a crise no
colo do Senado, só porque a "MP da
Grilagem" lá tramitava naquele
momento. Logo os senadores, que
nem relaram no conteúdo do texto.
Se agora atender ao "apelo" do
ministro e fizer algum ajuste no decreto, Lula sairá revigorado da confusão que armou. Se sancioná-lo
sem vetos, a culpa será do agronegócio, do DEM, do Congresso... Marina defendia o ambiente com mais
vigor, mas Minc lava mais verde.
melchiades.filho@grupofolha.com.br
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