São Paulo, domingo, 12 de junho de 2011

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CARLOS HEITOR CONY

"E la nave va"

RIO DE JANEIRO - Nada surpreendente na decisão do Brasil de negar o pedido da Itália sobre o caso Battisti. Para simplificar, diria que a respeito de extradições temos uma tradição nacional e cito dois exemplos mais ou menos recentes. O do inglês Ronald Biggs e o do austríaco Gustav Franz Wagner.
O primeiro havia tomado parte no assalto a um trem pagador, conseguiu escapar, rodou meio mundo e veio parar no Brasil. Policiais ingleses tentaram prendê-lo aqui mesmo, houve bate-boca diplomático; enquanto isso, o ladrão casou com uma brasileira e teve um filho, deixaram o cara em paz, chegou a ser guia turístico, até que adoeceu e quis voltar para a Inglaterra, onde ficou preso num hospital e morreu.
O caso do outro rendeu um filme nos Estados Unidos. Era guarda no campo de concentração de Sobibor, na Polônia. Um gigante, de mãos imensas e olhos frios. Recebia as levas dos judeus prisioneiros na estação de trem, arrancava as crianças do colo das mães e as espatifava num poste. Viveu anos em Atibaia (SP) até que foi preso pelo então delegado Romeu Tuma. Três países pediram sua extradição, Polônia, Alemanha e Israel. Morreu meio louco, em liberdade.
No caso de Battisti, a Itália pretende engrossar, mas o premiê Berlusconi já avisou que não vai declarar guerra ao Brasil por causa dele. Ainda bem. Com exceção das Guerras Púnicas, tudo o que aconteceu e acontece na Itália é culpa do primeiro-ministro. Há muito Catão por lá, repetindo o "delenda Carthago" em relação ao Brasil. Não temos nada a temer, a Itália tem problemas de sobra, inclusive com o próprio Berlusconi, que um dia desses pode pedir asilo no Brasil, repetindo um antecessor (Bettino Craxi) que morreu no exílio. E é assim que, segundo Fellini, "la nave va".



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