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Cog quem?
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Veja, ilustre leitor, a delícia que é o país ter um intelectual de
truz, como Fernando Henrique Cardoso, na Presidência da República. Só
alguém como ele seria capaz de introduzir a expressão "dissonância cognitiva" em uma reunião ministerial para discutir as dificuldades do governo.
Suspeito que mais de um ministro
terá se interrogado, baixinho: "De
partido será esse cog-sei-lá-o-que que
meu chefe pretende nomear para o
ministério? Será para o meu lugar?".
Se o presidente pertencesse à chusma
inculta, teria dito simplesmente o seguinte: "Eta povinho besta, que é incapaz de entender todas as maravilhas
que eu faço em benefício dele".
Mas, como é intelectual bem-preparado, consegue formular raciocínios
inéditos e lançar conceitos que revolucionam a forma de administrar não
no Brasil, mas quiçá em todo o planeta, talvez até além dele.
Só mesmo com uma sólida formação
acadêmica alguém teria descoberto
que os ministros pertencem ao governo, não aos partidos que os indicaram. Não é um conceito profundamente revolucionário?
Sei que sempre haverá um cético de
plantão para dizer que o ministro
Waldeck Ornélas (Previdência) é ministro de Antonio Carlos Magalhães, e
não do governo. Seria do governo se
fosse demissível sem uma consulta
prévia ao presidente do Senado. Alguém realmente acha que o presidente
afastaria Ornélas sem, antes, consultar ACM?
Não importa. O que conta é o fato de
que, conceitualmente, até o Ministério
da Previdência é do governo, e não do
partido que indicou o ministro Ornélas (no caso, o PFL).
Como tampouco importa o fato de
que, se a popularidade do presidente
anda baixa, isso talvez se deva ao elevado desemprego e às dificuldades
econômicas mais ou menos generalizadas. É um raciocínio muito simplista. Conceitualmente, trata-se de "dissonância cognitiva" e estamos conversados.
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