|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
O horror pelo horror
MADRI - Nenhuma outra cidade
no mundo é capaz de sentir na própria pele atentados como os ontem
praticados em Mumbai (a antiga
Bombaim, na Índia) como os sente
Madri. Até porque as cenas inicialmente mostradas pela televisão relembram claramente atentados similares contra os trens da capital
espanhola, praticados há apenas
dois anos e meio.
Como se fosse pouco, há ainda o
fato de que o dia (11) também foi o
mesmo, um 11 de março aqui, um 11
de julho lá (e, mais atrás, um 11 de
setembro nos Estados Unidos).
Mesmo o número de mortos (191
em Madri) acabará por ser parecido, à medida que forem sendo descobertos cadáveres em Mumbai.
A única diferença é que, nos atentados de Madri, embora nada, nada,
nada, justifique o horror, havia ao
menos uma explicação: o governo
espanhol da época estava envolvido
plenamente na Guerra do Iraque (e
também no Afeganistão, onde,
aliás, continua).
Como a Grã-Bretanha, também
vítima de atentados (estes contra o
metrô e um ônibus), há apenas um
ano, está e continua.
A Índia, no entanto, não está no
Iraque, não está no Afeganistão,
não é um país cristão (e, portanto,
não faz parte da suposta cruzada
contra os muçulmanos).
Logo, a suspeita óbvia recai sobre
fundamentalistas islâmicos que lutam pela independência da região
de Caxemira, disputada por Índia e
Paquistão. A mesmíssima Mumbai
sofreu uma série de ataques coordenados, há 13 anos, que mataram
mais de 300 pessoas.
Mas, agora, a data e os pontos escolhidos (transporte) parecem feitos para remeter à Al Qaeda, essa
rede que é hoje muito mais uma
franquia, a franquia do horror, do
horror pelo horror, porque todo
mundo sabe que não é com esses
atentados que os países-vítimas
mudam suas políticas.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Aposentadoria obrigatória
Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: Quem não é? Índice
|