São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

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CLÓVIS ROSSI

O horror pelo horror

MADRI - Nenhuma outra cidade no mundo é capaz de sentir na própria pele atentados como os ontem praticados em Mumbai (a antiga Bombaim, na Índia) como os sente Madri. Até porque as cenas inicialmente mostradas pela televisão relembram claramente atentados similares contra os trens da capital espanhola, praticados há apenas dois anos e meio.
Como se fosse pouco, há ainda o fato de que o dia (11) também foi o mesmo, um 11 de março aqui, um 11 de julho lá (e, mais atrás, um 11 de setembro nos Estados Unidos). Mesmo o número de mortos (191 em Madri) acabará por ser parecido, à medida que forem sendo descobertos cadáveres em Mumbai.
A única diferença é que, nos atentados de Madri, embora nada, nada, nada, justifique o horror, havia ao menos uma explicação: o governo espanhol da época estava envolvido plenamente na Guerra do Iraque (e também no Afeganistão, onde, aliás, continua).
Como a Grã-Bretanha, também vítima de atentados (estes contra o metrô e um ônibus), há apenas um ano, está e continua. A Índia, no entanto, não está no Iraque, não está no Afeganistão, não é um país cristão (e, portanto, não faz parte da suposta cruzada contra os muçulmanos).
Logo, a suspeita óbvia recai sobre fundamentalistas islâmicos que lutam pela independência da região de Caxemira, disputada por Índia e Paquistão. A mesmíssima Mumbai sofreu uma série de ataques coordenados, há 13 anos, que mataram mais de 300 pessoas.
Mas, agora, a data e os pontos escolhidos (transporte) parecem feitos para remeter à Al Qaeda, essa rede que é hoje muito mais uma franquia, a franquia do horror, do horror pelo horror, porque todo mundo sabe que não é com esses atentados que os países-vítimas mudam suas políticas.


crossi@uol.com.br

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