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RUY CASTRO
Antes assim
RIO DE JANEIRO - Vinte e poucos
dias fora do Brasil, quase todos em
cidades mais na rota turística de
1010 que de 2010, como Lagos e Sagres, em Portugal, e Sevilha e Córdoba, na Espanha, já seriam uma
ideia considerável de férias -reforçam a convicção de que o tempo é
eterno e não há razão para afobamentos. E mais ainda se, no intuito
de zerar o QI, o cidadão conseguir
se manter a uma distância segura
da informação.
Para isso, contribui a alergia da
maioria dos jornais europeus pela
notícia (e a da televisão, maior ainda), em troca de altas análises sobre o aumento do pedágio nas estradas portuguesas ou a ameaça de
uma praga de pulgões nas plantações de girassóis da Espanha. Se,
além disso, você se conservar longe
da internet, não abrir o e-mail e não
telefonar para casa -fácil para
quem não usa celular-, ficará maciçamente por fora do que acontece
por aqui.
Em três semanas, exceto pelo fracasso da seleção na Copa, os únicos
ecos de uma provável existência do
Brasil captáveis na Europa, e mesmo assim nos canais internacionais, referiram-se às chuvas no
Nordeste, logo suplantadas por tragédias similares em outros burgos.
Na TV, tudo se resume a um show, e
o conteúdo humano de um fato está
na relação direta do impacto das
imagens, capaz de permitir sua repetição cem vezes por dia.
Mas não quer dizer que o Brasil
estivesse fisicamente ausente da
Europa. Ao contrário, nunca vi tantos brasucas fora de casa. A frase de
Millôr Fernandes, de que não existe
o japonês individual, começa a nos
ser aplicável. Não se pode dar um
passo por uma ruína moura ou cristã sem ouvir alguém falando atrás
de nós, "Jéssica, tire o dedo do nariz!" ou "Suélen, pare de flertar com
o guia!".
O dinheiro parece estar sobrando
para o brasileiro, e ele já não o está
usando apenas para comprar secadores de cabelo em Miami, como
até há pouco. Antes assim.
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