São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2000

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CENTRO DE CORTIÇOS

Viver na região central das grandes cidades brasileiras já há algum tempo deixou de ter o glamour de outrora. Com os novos padrões de ocupação do solo estabelecidos por mudanças no tipo de desenvolvimento, as elites urbanas deixaram em segundo plano o cuidado com os antigos centros, que se foram progressivamente degradando.
É o caso da maior cidade brasileira. São Paulo apenas em raríssimos momentos de sua história dispôs de governantes preocupados com os efeitos do crescimento econômico sobre a vida urbana. Esse descaso com a tarefa de planejar a ocupação do solo muito contribuiu para a calamitosa situação em que a cidade e, particularmente, seu centro se encontram.
Em meio à infra-estrutura urbana sucateada, proliferam cortiços. Nessas habitações coletivas, às vezes dezenas de pessoas dividem o mesmo vaso sanitário; famílias inteiras compartilham um único e minúsculo cômodo. Seiscentos mil indivíduos vivem em cortiços na cidade de São Paulo, a maior fatia deles se concentram na região da Sé, a mais central.
Mas, além das condições precárias de habitação, nos cortiços também se paga caro para viver. Segundo pesquisa da especialista Helena Menna Barreto Silva, da USP, divulgada com exclusividade por esta Folha, o preço do metro quadrado em um cortiço no centro paulistano é em média 78% mais caro do que o de uma casa térrea na mesma região; 41% mais alto do que o de um apartamento.
Por paradoxal que pareça, dessa situação de múltipla degradação pode surgir inspiração para políticas públicas dirigidas à revitalização da região central. Moradores de cortiços têm se organizado para cobrar do Estado e da prefeitura ações para transformar edifícios abandonados em locais dignamente habitáveis. Alguns urbanistas fazem coro a esse movimento, argumentando pela viabilidade desse tipo de projeto.
Eis um bom tema para os candidatos à prefeitura paulistana apresentarem propostas. Como reurbanizar o centro integrando os que, por não disporem de renda, ali habitam?


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