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CENTRO DE CORTIÇOS
Viver na região central das
grandes cidades brasileiras já
há algum tempo deixou de ter o glamour de outrora. Com os novos padrões de ocupação do solo estabelecidos por mudanças no tipo de desenvolvimento, as elites urbanas deixaram em segundo plano o cuidado
com os antigos centros, que se foram progressivamente degradando.
É o caso da maior cidade brasileira.
São Paulo apenas em raríssimos momentos de sua história dispôs de governantes preocupados com os efeitos do crescimento econômico sobre
a vida urbana. Esse descaso com a tarefa de planejar a ocupação do solo
muito contribuiu para a calamitosa
situação em que a cidade e, particularmente, seu centro se encontram.
Em meio à infra-estrutura urbana
sucateada, proliferam cortiços. Nessas habitações coletivas, às vezes dezenas de pessoas dividem o mesmo
vaso sanitário; famílias inteiras compartilham um único e minúsculo cômodo. Seiscentos mil indivíduos vivem em cortiços na cidade de São
Paulo, a maior fatia deles se concentram na região da Sé, a mais central.
Mas, além das condições precárias
de habitação, nos cortiços também
se paga caro para viver. Segundo pesquisa da especialista Helena Menna
Barreto Silva, da USP, divulgada com
exclusividade por esta Folha, o preço
do metro quadrado em um cortiço
no centro paulistano é em média
78% mais caro do que o de uma casa
térrea na mesma região; 41% mais alto do que o de um apartamento.
Por paradoxal que pareça, dessa situação de múltipla degradação pode
surgir inspiração para políticas públicas dirigidas à revitalização da região central. Moradores de cortiços
têm se organizado para cobrar do Estado e da prefeitura ações para transformar edifícios abandonados em
locais dignamente habitáveis. Alguns urbanistas fazem coro a esse
movimento, argumentando pela viabilidade desse tipo de projeto.
Eis um bom tema para os candidatos à prefeitura paulistana apresentarem propostas. Como reurbanizar o
centro integrando os que, por não
disporem de renda, ali habitam?
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